O Liberal
Amenidades
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Uma atitude equivocada

Valdete Braga
Ao ser informada sobre uma contravenção cometida pela filha, a mãe comentou “eu defendo os meus filhos em qualquer situação”. Fez um longo discurso sobre criar os filhos sozinha, a dificuldade deles em crescerem sem um pai presente, etc. Falas lícitas e verdadeiras, mas ditas em momento totalmente impróprio.
Logicamente, a responsabilidade de criar um filho ou filha, seja em uma família estruturada ou com as dificuldades ditas pela mãe em questão, é enorme. Em alguns casos específicos, sem apoio ou condição material, fica ainda mais difícil, e há de se entender e ser solidário às provações enfrentadas, mas isto não pode ser desculpa para atos ilícitos, sejam eles dos filhos ou dos pais.
Uma adolescente que furta não pode ter mão passada na cabeça devido às dificuldades enfrentadas pela mãe, pelo pai, ou por ambos. Uma blusa em uma loja hoje defendida, pode ser transformada em algo muito mais sério amanhã, e defender um filho é muito diferente do que defender os atos ilícitos dele.
No mundo atual, encontramos pais e responsáveis mais perdidos do que sua prole, e isto só cria mais problemas para ambas as partes. Ao chamar a mãe, que no caso era a única responsável pela adolescente, o dono do estabelecimento agiu de forma correta, por tratar-se de menor de idade, e ao apoiar o ato da filha, a mãe criou atenuante para que no futuro seja a polícia a ser chamada.
Possivelmente a intenção nem era apoiar, mas ao defender a filha ao invés de repreendê-la, a impressão que fica para ela é esta, deixando-a à vontade para repetir o ato. A frase “eu defendo em qualquer situação” ainda que bem-intencionada, está muito equivocada, transmitindo uma mensagem onde cabe interpretação mais equivocada ainda, ainda mais para a cabeça de uma adolescente em formação.
Furtar é errado, e nem mãe, nem pai, nem ninguém deve defender o ato. Em lugar de ensinar a filha, deixando claro que não é ela, e sim sua atitude que não merece apoio, a mãe, em cujo exemplo ela se espelha, transmite-lhe a ideia de que pode praticá-la.
Quando a informou sobre a infração cometida pela filha, muito provavelmente era isto que a pessoa lesada esperava, e também muito provavelmente o fez na intenção educativa, para que a adolescente entendesse que não se pode fazer isto. Ao contrário, a mãe, pessoa que deveria passar a ela esta mensagem, fez o oposto, criando não apenas constrangimento a quem foi prejudicado como sensação de impunidade a quem prejudicou.
A fala sobre a dificuldade em criá-la sozinha, inclusive, poderia ser usada para ajudá-la a enxergar o quanto estava errada. Pelo contrário, foi colocada como desculpa pelo que ela fez. Que Deus ilumine o caminho de ambas.

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