Acordei cansada e com uma sensação estranha. Em época de pandemia e isolamento, tudo é motivo para preocupação. Telefonei para um grande amigo, ficamos conversando, ele se disse bastante estressado com o isolamento, assim um fez companhia para o outro, mesmo sem a presença física.
Alguns minutos de conversa e me senti melhor, a sensação de peso no coração foi passando e dando lugar a uma paz muito grande. Conversamos um bom tempo, e logo estávamos rindo e fazendo planos para quando “tudo passar”.
Desliguei o telefone, tomei um banho, lanchei, e começou a chover. Coincidência ou não (eu prefiro “não”, porque não acredito em coincidência) lembrei-me de um sonho que tive, não um pesadelo, mas um sonho onde eu subia uma ladeira muito íngreme, e sentia um grande cansaço físico. Chovia e parecia (no sonho) que eu já estava caminhando há um bom tempo, o que justifica o cansaço.
Respirei fundo e procurei me lembrar dos detalhes, o que não consegui. Fiquei pensando: por que lembrar-me do sonho depois de tanto tempo, e porque esta lembrança não veio quando acordei? Por que lembrar exatamente quando começou a chuva?
O cético vai me dizer que não tem nada a ver uma coisa com a outra, o sensitivo talvez encontre uma explicação, mas o que importa é que a sensação ruim passou completamente.
Não sei exatamente qual lição tirar disto, mas uma coisa ficou muito clara: é possível, mesmo separados, estarmos juntos. Não é preciso alta tecnologia ou rede social para isto, um simples telefonema pode resolver. Enquanto não pudermos nos abraçar fisicamente, o abraço pode vir em uma conversa telefônica, por mídias sociais, ou até pela sintonia do pensamento.
Ninguém precisa ficar sozinho, sempre tem alguém conosco, visível ou invisível. A conversa com o meu amigo foi muito proveitosa, ele contou que começava a ficar estressado pelo momento que vivemos, e que conversar comigo o ajudou a desestressar, lembrando acontecimentos agradáveis de nossas vidas, alguns mais sérios, outros divertidos. Mal sabia ele que eu também precisava daquela conversa.
Terá sido o cansaço do sonho um pretexto para que eu o procurasse em um momento em que os dois precisávamos? Terá sido a chuva um motivo para eu me lembrar do sonho e não me preocupar que pudesse ser algo mais sério? Ou não será nada disto e tudo não passou de uma grande coincidência? Nunca vou saber. Mas de uma coisa eu sei: seja qual tenha sido a motivação, foi muito bom falar com o meu amigo. E este fato aparentemente tão simples, corrobora mais ainda a minha convicção de que tudo está como deve estar.