Por Valdete Braga
Tudo começou com “escrever como se fala”. Passou a ser comum lermos pela internet “cê tá bem?”, “brigado”, etc. Não era tão sério, afinal as pessoas estavam apenas se expressando através da linguagem coloquial, e dar importância a isto poderia ser considerado “esnobismo”.
Depois vieram as abreviações. Muito mais fácil escrever “vdd” do que verdade, “bju” em lugar de beijo, “vc” e não você. Novamente algo sem importância, normal, apenas uma forma mais informal de comunicação.
Tudo foi ficando tão normal, que questionar não seria politicamente correto. Vi, ao vivo e a cores, professores de português fazendo malabarismos para convencer adolescentes de que eles não poderiam escrever “vdd” em uma redação, que se o fizessem em uma prova para um concurso, seriam descontados pontos, etc, etc.
Quando penso que já vi de tudo, chegamos ao nível de nem precisarmos ter o trabalho de teclar, o telefone fala pela gente. É só clicar se estamos tristes, alegres, com raiva, tem carinha para tudo, os tais “emoticons”. Até se estivermos de coração partido, não precisamos falar nada, ele está lá, prontinho na tela, é só clicar.
Dizem que é a tecnologia facilitando a nossa vida. Será? Será que quando estamos conversando com um amigo sobre algo que nos magoou, não sentimos falta de explicar o que aconteceu, de desabafar o que nos oprime o peito, bem como não sentimos falta do olhar dele de compreensão, das palavras carinhosas de quem gosta da gente de verdade, daquele abraço sincero que nos aquece a alma? Ah, quase me esqueço: tem emoticons de abraço, também, já podemos abraçar com um clique. Um clica no coração partido, o outro clica no abraço, e o diálogo termina.
Existe também a situação inversa: quando estamos felizes, damos um clique na carinha sorridente, e temos como resposta a carinha com beijinho. Onde fica a alegria estampada no nosso rosto, onde fica a satisfação do nosso amigo compartilhando a nossa, sorrindo também, os mais emotivos nos abraçando de alegria, os mais expansivos dando pulos de satisfação? Nossa, me esqueci de novo. Tem menininho e menininha pulando nos desenhos, para nós.
Tecnologia veio para ajudar, não para substituir nossas emoções. Tanta “facilidade” até nos faz entender, por mais que não concordemos, quando um aluno diz para o professor que tenta lhe ensinar as funções gramaticais: “mas professor, prá que tenho de estudar? No Google tem revisão”. Fico imaginando a sensação de impotência de um professor ao ouvir isto. Impotência diante da tecnologia? Não, até porque ele mesmo deve se utilizar dela para aprimorar o seu trabalho. A impotência é diante da dificuldade em estabelecer o limite entre a utilização da tecnologia e a troca da vida real por ela.