Valdete Braga
“- Você ainda mora no mesmo lugar?
– Sim, moro.
– É que uma amiga se mudou para uma casa na sua rua, eu vou muito lá, e suas janelas estão sempre fechadas.
– Ah, é isso? É que eu prefiro abrir as janelas dos fundos, para arejar a casa. As da frente dão vistas direta para a rua e tira a privacidade minha e dos vizinhos”.
Neste diálogo existem algumas questões para se pensar. A primeira é a visível intenção da interpelada em encerrar o assunto, com a resposta curta e objetiva. Quando ela responde “sim, moro”, fica claro que não quer render conversa e que quer parar por aí. A segunda é a falta de noção da que fez a abordagem, ao continuar a conversa, se fazendo de sonsa. Isto sem contar a indelicadeza de ficar prestando atenção na casa dos outros.
Infelizmente, o mundo está cheio de gente assim, pessoas que se preocupam mais com a vida alheia do que com a própria, esquecendo delas mesmas em prol dos outros.
Vivemos em sociedade e a interação é importante e necessária, ninguém vive em uma ilha, precisamos uns dos outros e devemos conviver da melhor maneira possível, tanto com vizinhos, familiares, amigos…. o que não podemos e não devemos é invadir o espaço do outro, acompanhar seus passos, opinar em tudo.
Isto não se aplica apenas ao aspecto físico, mas também no nosso mental e emocional. Precisamos de companhia, seja de colegas, amigos, familiares, enfim, todos temos alegrias e tristezas, vitórias e fracassos, e conviver com eles sozinhos não é bom. Precisamos dividir, ter alguém com quem vivenciar nossas histórias. Precisamos ajudar e ser ajudado, vibrar com a alegria de alguém e ter alguém para vibrar com a nossa, consolar alguém em sua dor e ter alguém a nos consolar na nossa.
O ser humano não é um ser isolado, ainda que individual. Fazemos parte de um todo que se complementa, mas precisamos, antes de tudo, respeitar essa individualidade, tanto mental como fisicamente. Necessitamos conviver uns com os outros, só não devemos extrapolar.
Este diálogo nada mais é do que um exemplo, entre tantos que podem serem citados, de um exagero desta convivência. “Tomar conta” da janela da pessoa, e ainda interpelá-la sobre isto lembra mais fofoca do que convivência. Pode ter sido um comentário sem maldade, mas ainda assim não deixa de ser inapropriado.
Como se não bastasse, a pessoa que foi perguntada deixa claro que não quer falar sobre isso, ao responder educadamente, mas cortando o assunto, e a outra insiste, não entendendo ou fingindo não entender. Mereceu a “cortada”.
Em alguns momentos, é preciso bom senso até ao fazer uma pergunta.