Valdete Braga
Nunca imaginei que um dia se poderia acompanhar uma novela através de “memes” pela internet. É o que vem acontecendo com o final do remake da novela “Vale tudo”, apresentada pela Rede Globo de Televisão. Não se abre as redes sociais sem se deparar com alguma crítica, sátira, os famosos “memes”, que na verdade nada mais são do que as gozações que sempre existiram, antes da existência do termo “viralizar”.
Remake só no nome, diga-se de passagem, porque a autora atual modificou não só a história, como principalmente a personalidade dos personagens, criando um outro enredo em cima deles. Alguns, aliás a maioria, do original só têm o nome.
Não é à toa que a Odete Roitman construída pela excelente atriz Débora Block, mesmo com toda a sua vilania, conquistou a simpatia do público, que torce para que ela não morra no final, o que desconstruiria toda a trama, já que o principal da novela é o jargão “quem matou Odete Roitman”?
Ela não morrer não faria grande diferença, uma vez que a novela já é outra mesmo, e seria até interessante mais esta mudança. Para quem não assistiu a história original, a pergunta é intrigante, e para quem assistiu, chega a ser divertido o tanto de “furos” na narrativa.
A Odete de Beatriz Segal, além da maldade e preconceitos escancarados, era uma mulher pedante, arrogante no alto de sua fortuna, que causava aversão. Esta, da Débora Block, ainda que mantendo estes traços, tem um carisma que disfarça o pedantismo, com um humor ácido, que muitas vezes, mesmo dentro de uma arrogância muito bem construída, fala coisas que não deixam de serem verdadeiras.
A arrogância da Odete atual se camufla com a verdade implícita em muitos dos seus comentários. A personagem, em muito devido à interpretação da atriz, conquistou de tal forma o público, que a autora tentou reverter isto com uma cena horrorosa, em que ela deixa claro o seu racismo, chegando a apanhar da Raquel, interpretada pela também excelente Taís Araújo.
Nem isto adiantou, o público logo esqueceu, diante de outras falas e mesmo atitudes dela. Até o assassinato cometido pela personagem, que pela lógica deveria tê-la tornado odiada, também virou “meme”, minimizando algo tão terrível.
Muito dessa simpatia pela que deveria ser a vilã vem também da construção dos demais personagens. Quando os mocinhos são tão chatos, o vilão cresce, não tem jeito.
E a internet bombando, a ponto de ser possível acompanhar por cortes. Bem melhor, assim assistimos em poucos minutos apenas as partes mais importantes. Isto para quem gosta, claro, quem não gosta é só pular os vídeos.
Só que, pelo jeito, gostando ou não gostando, muita gente quer saber quem matou Odete Roitman.