As pessoas estão cada vez mais “práticas”. Neste mundo científico e cheio de tecnologia, praticidade passou a ser encarada, por muitos, como um grande elogio. Ser “prático”, “objetivo”, “funcional” virou sinônimo de modernidade, e muitos estão confundindo as coisas, tomando como modismo algo tão sério.
Assim como há algum tempo a tendência da modernidade eram os “sincerões”, agora são os “práticos”.
Devido aos equívocos cometidos, os “sinceros” foram entendendo que franqueza não é sinônimo de grosseria e sinceridade não precisa vir acompanhada de falta de delicadeza, muito pelo contrário. Os equivocados que achavam bonito serem “sinceros” agredindo os outros, entenderam que não é bem assim, que podem falar suas verdades e expor suas opiniões com educação e ética. Ainda falta muito, mas aos poucos estão compreendendo.
Passada a moda “sincerona”, chega a moda “praticidade”. Em defesa de serem “práticos” alguns se tornam arrogantes e desprovidos de sentimentos. Em nome de uma suposta objetividade, não se permitem possuir o que o ser humano tem de mais importante: a sua sensibilidade.
Estamos nos robotizando em nome de uma pseudo-modernidade que não leva a lugar algum, e esta visão de ser prático e objetivo em detrimento à sensibilidade só fomenta esta mecanização, que de moderna não tem nada.
Não somos robôs. Por mais que nos modernizemos, enquanto formos humanos, sentimentos irão existir e precisam ser considerados. A dualidade sentimento-praticidade faz parte de nós, e não só podem como devem conviver em harmonia. Precisamos dos dois e é exatamente esta convivência que nos difere (ainda) das máquinas.
Praticidade faz parte de nossa vida e precisamos dela. Mas assim como a sinceridade não pode nos tirar a educação, a praticidade também não pode nos tirar os sentimentos. Conviver com os dois nos tornam o que somos, e abdicar de um em detrimento dos outros tira a nossa essência. Não podemos ser só teoria nem só prática, só sentimento nem só razão.
Ser objetivo não significa abolir sentimentos. Aquele que bate no peito e diz “eu sou uma pessoa prática” para justificar a frieza de suas atitudes, está cometendo o mesmo erro daquele que dizia “eu sou sincero” para justificar sua falta de educação.
Todo exagero é nocivo. Não podemos, como seres racionais e emocionais, resvalar para um lado só, nem só sentimento, nem só razão. Não devemos nos deixar levar por modismos, e se a última invenção da modernidade é esta praticidade duvidosa, saibamos interpretar.
A frieza desnecessária não é objetividade, assim como a agressividade descabida não é franqueza. Torçamos para que, assim como os “sincerões” estão percebendo seu erro, os novos “práticos” também não durem muito em seu equívoco.