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O trabalho de pensar

Valdete Braga
Quando estamos conversando por mensagem e nosso interlocutor coloca (ou nós mesmos colocamos) um “emoji” de carinha rindo quando escrevemos algo engraçado, ou carinha triste em um assunto triste, ou ainda aquela conhecida carinha jogando um beijinho no final do papo, estes podem ser considerados gestos carinhosos, principalmente se a conversa for entre pessoas com certo grau de intimidade. 
Da mesma forma, um coração ou florzinha podem também representar um gesto de carinho. São formas atuais mais modernas de comunicação e é natural que as coisas vão mudando, a gente se adaptando, principalmente em questões mais superficiais.
O que não deveria acontecer é este crescimento além do normal, com tanto exagero, onde o texto praticamente se transforma em um quadro de desenhos. Já vi frases como “Estou indo para (desenho de uma casa)” ou “hoje está muito (desenho de um sol)”. Isto não só “fica feio” como incentiva a preguiça tão crescente, principalmente entre os mais jovens, de escrever. 
Estamos lendo cada vez menos, o que dificulta a escrita, e quando não precisamos mais de frases para transmitir a ideia, encontrando-a pronta em desenhos, gravuras e “emojis”, esta preguiça só aumenta, aumentando junto a dificuldade e consequentemente também o interesse, tanto pela leitura como pela escrita.
Professores se empenham ao máximo para, além de ensinar, despertar nos alunos o gosto pela leitura, mas esta se torna uma tarefa mais árdua a cada dia, quando crianças e adolescentes pegam o celular e encontram tudo pronto nas mídias sociais. É muito mais fácil clicar e o pensamento aparecer na tela do que ter o “trabalho” de pensar.
Não se exercita mais o cérebro nem se usa a imaginação. O pensamento é concluído sem uma única frase completa, o que desmotiva o exercício da criatividade, formando pessoas apáticas quanto à interpretação de texto o que, ao contrário do que possa parecer, não se trata apenas de uma questão acadêmica ou literária.
Interpretação de texto vai muito além da leitura de mensagens pela internet, obras literárias ou artigos de jornais e revistas. Precisamos dela para a vida, e ao incitarmos este tipo de leitura como “estou quase chegando em (desenho de uma casa)” estamos apoiando, entre outras coisas, uma futura dificuldade de exposição de ideia e argumentação.
Pode até ser “engraçadinho” para alguns conversar desta maneira, mas não há nada de positivo nisto. O que começou como um carinho de um coração ou flozinha no final de uma frase, está crescendo de forma descontrolada e perdendo o sentido, pois o carinho fica esquecido entre tantas gravuras, perdendo, até ele, o significado.

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