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O casarão e as pessoas

Após os primeiros dias difíceis como há muito não se via, o mês de janeiro chega ao seu final.
A temporada de chuvas deste início do ano de 2022 trouxe problemas seríssimos, com enchentes, desbarrancamentos e deslizamentos de terra, causando perdas materiais e de vidas por todo o Estado, sendo a nossa cidade muito atingida, deixando várias famílias desabrigadas.
Perdemos o casarão Baeta Neves, soterrado entre escombros do deslizamento de terra do Morro da Forca, uma perda irreparável, de valor histórico inestimável, e ninguém em sã consciência nega isto.
O que muitos questionam com razão é o valor de vidas humanas que também foram perdidas e de pessoas que perderam tudo de material que tinham, inclusive suas casas, levados pela chuva, não terem sido tão lamentados por alguns (não todos, é lógico).
Amamos a história de nossa cidade, mundialmente conhecida e valorizada, mas já passou da hora de autoridades e pessoas comuns (também não todas) entenderem que o valor histórico só existe porque pessoas o preservaram. Que somos Patrimônio Mundial da Humanidade porque gente de carne e osso, a maioria pessoas comuns, cuidaram, mantiveram e preservaram as edificações de pedras e madeiras, inanimadas.
A cidade é viva porque nós estamos vivos. Se, em uma utópica cena de filme futurístico, todos nós sumirmos, em pouco tempo tudo rui, e por “todo nós” entende-se moradores do centro histórico, bairros periféricos e distritos.
A cidade somos todos nós e se todos temos deveres todos também temos direitos. O casarão colonial, cuja área já estava embargada há anos, foi soterrado e isto é muito triste, mas igualmente triste são famílias inteiras estarem desabrigadas e encostas serem ocupadas com risco de vida a cada temporada de chuva.
Vou mais além e digo que não é “igualmente” e sim “mais” triste, pois quando existem vidas em jogo fica ainda mais sério.
A questão das encostas ocupadas em Ouro Preto é assunto de relevância e sempre surge quando alguma tragédia acontece, quando na verdade deveria ser não só discutida, como estar sempre, repito sempre, em pauta não apenas em palavras, mas com ações concretas, para ser resolvido. Todos precisam morar, e sem políticas públicas sérias voltadas para a questão habitacional, a tendência é só piorar, infelizmente. Se com a mesma relevância com que tantos se preocuparam com a queda do casarão, estes mesmos se preocupassem com os habitantes, seria bem mais rápido e fácil. 
O tema é delicado, porque muitos não entendem. Não se trata de minimizar a perda do casarão, pelo contrário, trata-se de, reconhecendo o valor histórico do mesmo, reconhecer também o valor humano. Ambos são importantes, mas ainda fico com o segundo.

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