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Lição de vida

Valdete Braga

A mãe de uma amiga completou 90 anos. Lúcida e ativa dentro das limitações da idade, leva uma vida tranquila e tem uma alegria de viver que muitos jovens não demonstram.

Comemorou o aniversário com a família e alguns amigos e fez questão de soprar uma velinha colocada em cima de um bolo, antes de se recolher e nos deixar continuando a comemoração, sem a presença dela.

“- Vocês não reparem, mas eu já vou dormir, que passou da hora. Fiquem à vontade e se divirtam. Muito obrigada e espero vocês aqui novamente no ano que vem”.

Fiquei encantada com a vivacidade daquela senhora que, completando 90 anos, ainda faz planos para o próximo aniversário.

Que lição! Quantos de nós, com muito menos tempo de vida, já nos dizemos cansados e desanimados da vida, reclamando por questões às vezes nem tão sérias?

Fiquei imaginando o que aquela senhora já deve ter passado, quantos momentos bons e ruins, quantas dores e alegrias, felicidades e sofrimentos, e senti uma enorme admiração e respeito por ela.

Pensei na benção de se chegar a esta idade amando a vida e sendo amada por familiares e amigos e desejei um mundo utópico onde isto fosse possível a todos.

Viúva, ela teve quatro filhos, dos quais um já partiu, como o pai. Os três restantes se revezam nos cuidados à mãe, com ajuda das próprias famílias, e os netos foram ensinados desde cedo a respeitá-la e aceitar suas dificuldades e limitações sem implicâncias.

Nem todas as pessoas têm a graça de envelhecer com esta qualidade de vida, pelo contrário, muitos idosos são negligenciados pela própria família, o que, por mais absurdo que seja, é comum de acontecer. Em muitos casos, infelizmente, filhos, noras, genros e netos não param para pensar que também vão envelhecer um dia, e na rapidez com o tempo está passando, este dia vai chegar muito mais célere do que pensam.

A velhice, na esmagadora maioria dos casos, é triste, mas não precisava ser. Basta o mínimo de sensibilidade para se entender que o corpo muda, a mente falha, e as pessoas mais velhas não têm como acompanhar a agilidade dos mais jovens, isto é óbvio.

Netos “impacientes” com avós e filhos “estressados” com pais se esquecem de que os velhos já foram jovens e os jovens, se tiverem sorte, um dia serão velhos. Por mais óbvio que seja, muitos se recusam a pensar nisto.

Quando me deparo com exemplos como este, sinto que existe ainda esperança. Quem dera todas as famílias do mundo fossem como a da minha amiga.

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