Por Valdete Braga
Segundo o dicionário, o adjetivo intenso significa “que se manifesta, que acontece com muita força, intensidade ou vigor”. Aprendemos assim e utilizamos a palavra dentro deste significado, mas como tantos outros vocábulos e expressões, este também vem adquirindo, por conta de alguns interessados, outro conceito.
Está a cada dia mais comum pessoas se auto definindo “intensas”, principalmente entre os mais jovens. Esta definição geralmente acontece para justificar alguma ação mais agressiva ou violenta, que também passa a ser confundida com “intensidade”.
Esta ideia lembra outra, também muito comum, onde alguns confundem grosseria com sinceridade. Isto acontece quando a pessoa, julgando-se “franca” usa palavras agressivas para com o outro, muitas vezes ofensivas e desnecessárias, e justifica a sua falta de educação com a frase “eu sou uma pessoa franca”. Não, não é, pelo contrário, é uma pessoa despreparada para o trato com o semelhante, porque sinceridade e franqueza podem e devem muito bem virem acompanhadas de polidez e educação.
Pais que justificam atitudes agressivas dos filhos definindo-os como “intensos” estão errando na educação dos mesmos e criando para eles dificuldades futuras.
Uma criança que chuta a perna do pai ou dá socos na mãe quando é contrariada não é “intensa”, é uma criança normal, que precisa de limites, simplesmente. Um adolescente que grita com o professor em sala de aula na frente dos colegas ou bate a porta do quarto “na cara” dos pais, também não é intenso, é sem educação e desrespeitoso, possivelmente seja o mesmo que batia na mãe e chutava o pai quando era pequenininho.
Quando o adolescente grita com os pais, sai pisando duro, bate a porta do quarto e se tranca com o computador, ele não está sendo “intenso”, está sendo mal educado e precisa ser chamado à atenção devidamente. Criar adjetivos e “deixar prá lá” é bem mais fácil do que educar, mas esta saída mais fácil acabará fatalmente trazendo consequências negativas.
Estabelecer limites e exigir o seu cumprimento é papel do adulto, e se ele não o faz no momento certo, não está sendo “amigo”, muito pelo contrário. A criança sem limites de hoje pode se tornar o jovem rude de amanhã, e o adulto abusivo ou algo até pior, de depois de amanhã.
Estabelecer limites obviamente não quer dizer maltratar, agredir, muito pelo contrário, significa mostrar o caminho com a dedicação e firmeza necessárias.
Esta pseudo “intensidade” nada mais é do que mais uma expressão criada para tentar justificar o injustificável. Respeito não tem época nem idade. Todos precisam dar e merecem receber.