Cheguei de viagem e encontrei Ouro Preto mais triste. Eu estava a par dos acontecimentos, tanto através dos meios de comunicação, como por contato com amigos, mas isto não me impediu de sentir a energia que a cidade emanava.
Quando pessoas queridas e engajadas partem, a cidade também morre um pouco, e não foram uma nem duas, em muito pouco tempo. Claro, todas as vidas são importantes. Claro, todos nós temos família e amigos e todas as pessoas que partem deixam tristeza e saudade em alguém. Conhecida ou anônima, cada vida tem a sua importância e uma não é melhor do que a outra.
Mas em nossa passagem por aqui, algumas pessoas se destacam mais do que outras. Não significa que sejam melhores como ser humano, mas deixam legados que nem todos conseguem.
Ouro Preto tem história e pessoas que tornam essa história viva. Pessoas que são história. Quando em um prazo tão curto vamos recebendo notícias de um que parte, depois outro, depois outro, dói.
Quando eu era criança, minha mãe tinha uma superstição que herdou dos pais, que por sua vez herdaram dos avós, e ela levava a sério. Sempre que ia numerar mortes, o último número vinha seguido do próximo, com a frase “com o cachorro”. Por exemplo, se ia contar que duas pessoas morreram, ela complementava “três com o cachorro”. Se o número de mortos era três, concluía “quatro com o cachorro” e assim por diante.
Não sei de onde veio esta ideia estranha, talvez porque na época não se tivesse a consciência de que a vida dos cães, como de todos os animais, também é valiosa. Não é uma vida humana, mas é uma vida e deve ser respeitada.
Conversando com um amigo, numerando e nominando as pessoas importantes para Ouro Preto que partiram tão próximas umas das outras, lembrei-me desta história e fiquei imaginando se não teria vindo daí a minha dificuldade em numerar partidas.
Cabe esclarecer que quando digo “importante” estou utilizando o verdadeiro sentido da palavra. Enquanto estive viajando, a cada dia chegava notícia de algum ouropretano, por nascimento ou escolha, verdadeiramente importante para a cidade, que partiu. Não fiquei tanto tempo assim fora, e antes de sair, alguns já haviam partido. Não conhecemos os planos de Deus, mas por algum motivo, Ele decidiu receber de uma vez só tantos cidadãos importantes para nossa cidade. Talvez para ajudá-lo a olhar por ela. Que todos se reúnam no céu em uma grande festa.