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Fácil aprender, difícil aceitar

Está a cada dia mais difícil trabalhar na área de comunicação. Em pouquíssimo tempo, tudo mudou tanto, que fica difícil se adaptar. Não que seja difícil acompanhar, muito pelo contrário, é até muito fácil, bem mais fácil do que seguir o método antigo. A dificuldade de adaptação está muito mais na aceitação do que no aprendizado.

Na verdade, praticamente não há o que aprender em um sistema onde se escreve como se fala e se comunica sem palavras. Pensamentos inteiros são repassados em duas gírias e um gesto, independentemente se o outro entendeu ou não. A comunicação, escrita ou verbal, não se preocupa mais em se fazer entender, o que acaba se tornando uma grande incoerência.

Salvo raras exceções, não se usa mais o básico do básico, como iniciar uma frase com letra maiúscula ou o mínimo de concordância. Mínimo mesmo, ninguém espera uma geração de Ruis Barbosas, até porque ninguém usa a linguagem padrão o tempo todo, fica forçado e nem é agradável aos ouvidos.

Ninguém fala ou escreve segundo as regras o tempo todo, tanto que nem se usa mais a expressão “escrever corretamente”. Há muito que se questionar sobre os ensinamentos dos séculos passados, e evoluímos muito neste quesito. A língua é fluida e mudanças acontecem, é natural e precisamos acompanhar. Esta adaptação, sim, é necessária e muito válida, em todos os aspectos.

Além disto, há outras questões a se avaliarem, como regionalismo, mudanças sociais, entre outras, e não é sobre isto que falo. Falo da total falta de responsabilidade com a linguagem, muitas vezes vindas de profissionais da área. Está muito comum, por exemplo, jornalistas migrarem para canais da internet, já chegando gritando (literalmente) “aê galera, nóis chegou prá passar as notícia procêis tudo”. Aí vem uma enxurrada de “fulano tá com o casamento coisado”, “ciclano tá com o………. na mão”, e outros que não me atrevo a repetir.

Este exemplo serve para jornalistas de canais de fofoca ou noticiaristas de celebridades, mas está crescendo tanto que já chega à TV aberta. Isto é que dá dinheiro, que atrai público e likes. O que antes era tido como entretenimento está chegando em outras áreas e daqui a pouco vai ser o normal.

Comerciantes com suas propagandas, políticos com suas campanhas, atletas com seus esportes, usam uma infinidade de palavras sem sentido, inventadas, para atingir um público específico. Este público pode até ser maioria, mas onde vamos parar com esta maioria, que entrega engajamento e dinheiro, mas que perde a própria capacidade de pensar? Quando os comerciantes, políticos, atletas, etc, não estiverem mais aqui, quem vai pensar por eles?

A partir do momento em que comunicar-se virou ser igual à massa, independentemente de para onde esta massa está caminhando, ficou realmente muito difícil trabalhar com comunicação. Ou se entra na manada, em busca de engajamento, ou se segue uma jornada solitária. É questão de escolha, e eu escolho a segunda opção.

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