Eu saía do supermercado e me deparei com um aparelho celular literalmente “na minha cara”. Foi tão repentino que fiquei sem ação por alguns segundos, enquanto o rapaz, “apontando” o celular para mim, fez uma pergunta que aqui não vem ao caso, ao mesmo tempo em que tecia as suas considerações sobre o tema. Falava tanto, que mesmo que eu quisesse responder, precisaria antes esperar que “ele” terminasse a sua explanação.
O que ele falava não é relevante aqui, porque a intenção desta crônica não é o que foi dito, e sim a atitude do rapaz, normal para muitos, mas a meu ver totalmente descabida.
Disse a ele que desligasse o celular ou fosse gravar em outra freguesia (com essas palavras mesmo, afinal a forma como fui abordada me dava este direito).
O moço ficou visivelmente surpreso e desligou a gravação, ou vídeo, ou seja o que estivesse fazendo. Diante da surpresa e imediata anuência dele, a minha irritação passou e perguntei para que era a filmagem. Na verdade, eu já sabia a resposta, mas queria ouvir dele.
Ele respondeu que estava fazendo “uma pesquisa para colocar no facebook”, como eu já imaginava, e como eu também já imaginava, o rompante na forma como me abordou não vinha de arrogância e sim da maneira como essa geração aprendeu a conviver uns com os outros. Já nascem com o celular na mão e conhecem muito mais o mundo nas telas do que na vida real.
“Com licença”, “por favor” e “obrigado” são expressões que não existem mais, isso sem falar na total falta de entendimento para com o próximo. Para aquele jovem, filmar alguém sem autorização, chegar impondo a resposta a uma “pesquisa” que ele resolveu fazer por sua própria conta e risco é algo normal, ele realmente não via nada demais nisso. Nem passou pela cabeça dele que o “entrevistado” poderia não querer fazer o que, para ele, é importante. Para pessoas assim, o outro não existe, só o que importa é o entendimento próprio.
Nem repórteres profissionais fazem isso. Sejam de um jornal pequeno do interior ou da grande mídia nacional, profissionais sérios não abordam ninguém assim na rua. Existe uma preparação antes, perguntam se a pessoa aceita ser filmada, etc.
O problema é que, atualmente, o aparelho celular se transformou em fonte de “poder” nas mãos de alguns desavisados, pessoas que se sentem muito “importantes”, “formadoras de opinião”, e dentro desta visão equivocada, muitos saem passando vergonha por aí. Sentem-se no direito de sair fotografando, filmando, postanto à revelia de quem está do outro lado, sem o menor respeito à privacidade alheia.
Esquecem-se de que nem todo mundo aceita esse tipo de exposição, e se de um lado há os que agem assim, cabe a nós, do outro lado, estabelecermos os limites.