Ouro Preto, que já era cidade Patrimônio Nacional, passou a ser considerada, pela UNESCO, a partir de 1980, Patrimônio Mundial da Humanidade. Claro que título tão importante é motivo de orgulho para todos nós, ouropretanos, por nascimento ou opção.
Nossa cidade é historicamente conhecida como berço da liberdade, devido aos importantes acontecimentos aqui ocorridos, além do seu valor cultural. Abriga uma das universidades mais importantes do país, além do IFMG, antiga Escola Técnica, formadoras de tantos talentos conhecidos nacional e mundialmente.
Mas o tempo passa. Novos acontecimentos surgem. As coisas mudam. Uma cidade mundialmente reconhecida não pode e não deve desconhecer seus habitantes.
O orgulho pelo título mundial não pode sobrepor-se aos interesses dos que não possuem títulos, mas são tão filhos da terra quanto aqueles mundialmente reconhecidos. O patrimônio material não pode significar mais do que o ser humano e as paredes, portas e janelas das construções não podem jamais ser mais importantes do que a vida daqueles que estão lá dentro.
Os casarões, museus e escadarias são sim, importantíssimos, mas não têm alma. Aqueles que moram nos casarões, visitam os museus e passam pelas escadarias a caminho do trabalho, para garantir o seu pão de cada dia, estão vivos, possuem um coração dentro do peito, que sofre e é feliz, que tem sentimentos, impossíveis de serem encontrados no mais importante dos monumentos.
Nós, seres humanos que aqui vivemos, no centro e nas periferias, na cidade e nos distritos, que construímos a cidade a cada dia, que fazemos dela o sucesso que representa pelo mundo, não podemos ficar à mercê do inanimado. Temos por obrigação mantê-lo e respeitá-lo, mas não somos escravos dele. Temos contas para pagar, filhos para criar, amamos nossa terra e queremos o melhor para ela, mas temos o direito de também dela receber o melhor. A fachada de nossas casas não pode ser mais importante do que a nossa família, que vive dentro dela. Nada jamais substituirá o ser humano, e não existe título no mundo que consiga mudar esta verdade.
Visitantes e turistas são muito bem vindos, mas quem faz a cidade é sua gente. Somos nós que recebemos, que cuidamos, que amamos esta terra muito acima de interesses políticos ou financeiros.
Onde está o nosso espaço está a nossa vida, e nosso espaço se localiza em nossa cidade. Patrimônio mundial? Que maravilha! Mas e o patrimônio humano? O que é mais importante? Nossas fachadas, para fomentar turistas, ou seu interior, que fomenta nossa convivência? Eu diria ambos. Mas se somos obrigados a escolher, fico com o segundo, sem dúvidas.