Assuntos pendentes – Segunda parte
Chegou o dia do baile. Mesmo com todos os protestos de dona Margarida, Caio mandou fazer seu terno no melhor alfaiate da cidade e apresentou-se a ela todo elegante, antes de sair. Usava uma camisa branca muito bem engomada, e calça e paletó pretos, com gravata também preta.
– Que tal estou, mãe?
– Ah meu filho, você está muito elegante, mas tem mesmo certeza de que quer ir a este baile? Ainda há tempo de desistir. Tenho um mau pressentimento. Por favor, não vá.
Vendo que o assunto era realmente sério para a mãe, ele aproximou-se dela com carinho, pegou suas mãos, e assentou-se com ela no sofá de palha. Para desanuviar o semblante carregado da mãe, ele brincou:
– Não há com o que se preocupar, minha mãe. Pense bem: é o baile de Farmácia. Ainda se fosse de Engenharia, que só tem marmanjo, eu poderia pensar. Mas na Escola de Farmácia tem umas moças lindas e de boa família se formando. Isto sem contar as parentes, que vêem de toda parte do país, especialmente para o baile. Quem sabe hoje eu não encontro uma moça para me casar, como a senhora sempre desejou?
– Você não tem jeito – respondeu dona Margarida, dando um abraço no filho. Então vá com Deus. Vou ficar rezando por você.
Feliz por ter conseguido despreocupar a mãe, Caio fechou a porta e seguiu para o CAEM, onde logo começaria o concorrido baile.
Encontrou os amigos que já o esperavam na Praça Tiradentes e juntos apresentaram os convites na Portaria e subiram as escadas para o salão do baile, muito bem decorado e com os formandos e convidados já chegando.
Colocaram-se em um ponto estratégico do salão, de onde avistavam a pista de dança e a porta de entrada, podendo assim observarem as moças que chegavam, atentos se elas vinham com os pais ou acompanhadas. Faziam comentários em tom bem baixo, para não serem ouvidos, a respeito da beleza das garotas.
De repente uma jovem em especial chamou a atenção de Caio. Primeiro pela sua beleza estonteante, de longe a mais linda que entrara no salão, e também pelo fato de ter chegado sozinha, o que não era comum naqueles tempos. A moça usava um vestido longo, de cor salmão, com rendas nas mangas e o cabelo estava preso em um coque, o que realçava ainda mais a sua elegância.
O rapaz ficou fascinado. Perguntou aos amigos, nenhum conhecia a moça.
– Deve ser de fora, nunca a vimos por aqui – disseram.
(Continua na próxima edição)