Caio sentia-se nas nuvens. Não via a hora de chegar em casa e contar à mãe que finalmente encontrara uma moça por quem realmente se interessara. Mesmo ele já sendo homem feito, dona Margarida insistia em esperá-lo acordada. De nada adiantavam seus apelos para que ela não fizesse isto.
Chegou em casa, feliz da vida, encontrou-a esperando-o e contou toda a história, como conhecera Helena e que no dia seguinte iria buscar o seu paletó.
A mãe ficou feliz pelo filho e no dia seguinte, ele mal terminou de almoçar e seguiu para a casa da moça. Lá chegando, tocou a sineta que ficava na porta, e uma senhora com traços ainda jovens, mas muito envelhecida, veio abrir. Pela semelhança, ele logo percebeu tratar-se da mãe de Helena.
Educadamente, perguntou:
– Boa tarde. A Helena está?
A mulher ficou lívida e cambaleou, como se fosse desmaiar. Teria caído, se Caio não a tivesse amparado.
Sem pensar, entrou com ela quase carregada casa a dentro, a procura de um lugar onde pudesse colocá-la.
– O que foi, minha senhora? Está passando mal? Seu marido está em casa? E Helena? Posso ajudar?
A mulher começou a chorar convulsivamente e um senhor também com aparência de grande sofrimento apareceu na sala
– O que está acontecendo aqui? Querida, o que houve? Por que está chorando? Quem é este rapaz?
Assustado e sem nada entender, Caio apressou-se a explicar a situação.
– Meu senhor, o meu nome é Caio. Conheci sua filha Helena ontem no baile e a trouxe até em casa. Como estava garoando forte, deixei o meu paletó com ela e ela me disse que viesse buscá-lo hoje. Por favor, chame-a que ela pode confirmar tudo.
Para espanto do rapaz, a reação do senhor não foi diferente da esposa. Ficou branco como cera e assentou-se em uma cadeira, com o rosto entre as mãos. Caio não conseguia entender. O que estava acontecendo? Sentiu vontade de se assentar também, mas não seria educado, sem o convite dos donos da casa. Chorando, a mulher falou para ele:
– Que brincadeira de mau gosto é essa, rapaz? Por que está fazendo isso conosco? Vir em nossa casa com esta história mentirosa. Não respeita o nosso sofrimento?
Antes que ele tivesse tempo de responder, o senhor levantou-se e abraçou a esposa. Dirigiu-se a ele:
– Não se preocupe, senhor Caio. Eu sou Vicente, pai de Helena e acredito em você. Por favor, sente-se aqui e aguarde um instante. Já volto.
(Continua na próxima edição)