Em uma conversa entre amigos, uma senhora se gabava do quanto os filhos eram educados. “Tenho muita sorte”, ela dizia. “Meus filhos não são como a maioria dos adolescentes de hoje em dia. São educados, não me dão trabalho e eu e meu esposo temos muito orgulho deles”.
“Que bom”, comentou uma pessoa. “Isto é mérito seu e do pai deles, com certeza souberam educá-los”, disse outra. “Graças a Deus, temos sim crianças e adolescentes com boa formação”, e assim seguiu a conversa.
A mãe continuou comentando os valores dos filhos adolescentes, que tiravam boas notas, eram respeitadores, “não respondiam”, etc, até que uma das pessoas da roda perguntou:
– Quantos anos têm os seus filhos?
– A menina vinte e oito e o menino vinte e seis – ela respondeu.
Silêncio total.
Todos nos entreolhamos, sem saber o que dizer, até que alguém mudou de assunto, mas logicamente entre alguns, e longe da mamãe orgulhosa, o tema teve desdobramentos.
No círculo de pessoas, algumas eram amigas, outras se conheceram na hora. Havia pais, mães, solteiros, casados, todos mais ou menos na mesma faixa etária, das mais diversas profissões e condições sociais. O importante é que eram todas pessoas maduras, com idade para terem filhos na idade dos referidos “menino” e “menina”.
Dentre os que eram amigos e, portanto, com liberdade para comentarem sem parecer estarem “falando mal” da mãe, uma coisa havia em comum, ao mencionarem o fato entre si: todos concordavam que aos 26 e 28 anos de idade, ninguém é mais adolescente.
Realmente não é. Pais que enxergam assim os filhos, por mais educados que eles sejam, não estão lhes fazendo bem. Quando enxergarão os filhos como adultos? E, mais sério ainda, quando os referidos filhos se sentirão assim?
Aos quase trinta anos, “não dar trabalho” aos pais não é nenhuma virtude, é o óbvio para qualquer ser humano, aliás, nesta idade, muitos já são os pais que “têm trabalho” (ou não) com suas próprias crianças.
Não se trata de criticar a postura da mãe, até porque ninguém tem nada com isto, mas é uma atitude que chama a atenção. Pais que vêem filhos de 28 anos como adolescentes, quando os verão como adultos? E, mais sério ainda, quando eles se sentirão assim? Até quando estarão na “barra da saia” da mãe orgulhosa, porque “não dão trabalho?”.
Isto não é bom para ninguém. O tempo passa rápido, e todos nós precisamos viver o nosso tempo. Crianças precisam ser crianças e jovens precisam ser jovens, para assim chegarem à idade adulta com segurança e aceitação de cada fase da vida.