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A Salvação (conto) – Parte 4

Sem dar ao mordomo tempo de fechar a porta, Rosa literalmente deu um pulo para dentro da sala e viu-se frente a frente com uma senhora toda vestida de preto, com traços ainda jovens, mas um olhar tão triste que a emocionou.
– Minha senhora, queira me desculpar. Não quero faltar-lhe ao respeito. Não estou aqui por minha vontade, vim a pedido de um desconhecido, que pediu que lhe entregasse esta carta. 
Ato contínuo, estendeu o envelope para aquela senhora distinta e bem vestida, dando em seguida um passo atrás, temerosa da reação da mulher, diante de sua ousadia.
Para sua surpresa, aquela dama elegantíssima, demonstrando curiosidade, abriu o envelope. Porém, à medida em que lia a mensagem, a mulher foi ficando pálida e chegou a titubear, como se fosse cair. O mordomo correu a ampará-la e levou-a a se assentar em um divã, que ficava do outro lado da sala. Rosa deixou a trouxa de roupas cair ao chão e acompanhou-os. A senhora chorava convulsivamente, com a carta nas mãos. Na parede, em cima do divã onde ela se amparava, havia uma foto, pintada a óleo, de um jovem rapaz.
Sem se conter, Rosa deu um grito, apontando para a foto:
– É ele. Foi este o rapaz que me deu a carta. Tenho certeza. Ele estava idêntico a esta foto, com as mesmas roupas – ela falava, atropelando as palavras, sem conseguir conter a emoção.
Sem dizer uma palavra, ainda chorando muito, a senhora estendeu a carta ao mordomo. A reação dele não foi diferente. Empalideceu e encostou-se na parede, segurando as lágrimas.
A senhora, ainda em prantos, disse:
– Alfredo, leve esta jovem e lhe dê um lanche reforçado. Está evidente que está faminta. Assim que eu me recompor irei até ela. Quanto a você, minha filha, não tema. Logo entenderá tudo.
Estranhando o tratamento “minha filha”, Rosa acompanhou Alfredo até outro aposento, onde lhe foi servido um lanche reforçado. Percebendo o constrangimento da moça, que não sabia usar os talheres, ele falou:
– Vou deixá-la sozinha para você se alimentar. Fique à vontade e não tenha pressa. Mais tarde a condessa virá falar com você.
Então aquela mulher era uma condessa! O que estava acontecendo? Rosa ficou mais assustada e curiosa ainda, mas sentia tanta fome que no momento só enxergava o chá com biscoitos e os pedaços de bolo à sua frente. Sozinha, comeu até fartar-se, pegando o bolo e os biscoitos com as mãos, ignorando os talheres e segurando a xícara de chá com todo o cuidado, com medo de que se quebrasse. Ela nunca havia tocado em uma porcelana na vida.
(Continua na próxima edição)

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