Ao entrar na cidade, Rosa percebeu de imediato os olhares voltados para ela. Uma mulher negra, com roupas simples e surradas, mas que não eram de escrava, sozinha e com uma trouxa de roupas nas mãos, andando pelas ladeiras e vielas da cidade, não era comum. Quem seria? De onde vinha? Os varões e donzelas se afastavam, madames tiravam as crianças do caminho, mas ela seguia ereta e tranquila, sem saber para onde.
De repente, depara-se com uma escada de degraus largos, em uma rua onde o capataz da fazenda nunca a havia levado. Movida por um impulso, desceu aquela escadaria e deslumbrou-se com a mais bela cena que já havia visto, em toda a sua vida. Uma igreja maravilhosa, majestosa, se apresentava à sua frente. Pessoas entravam para a missa e ela ficou parada um pouco afastada da porta, encantada e assustada ao mesmo tempo. O padre, que chegava para rezar a missa, passou por ela.
– Quer entrar, minha filha?
– Eu posso? Perguntou, timidamente.
O padre, senhor de idade e sábia experiência, sorriu para ela.
– Todos são bem-vindos à casa de Deus. Hoje celebrarei a missa para as almas perdidas. Entre comigo e ninguém a importunará.
Dentro da igreja, Rosa sentiu-se ainda mais encantada. Não pensou na cor de sua pele nem nas vestes simples que usava em comparação com as roupas das damas da cidade. Meio escondida, perto da porta, assistiu à missa pelos mortos, rezou pelos avós e pelos pais, que não sabia se ainda viviam ou não, e por todas as almas que precisassem de luz. Terminada a missa, o sacristão passou com um saco de feltro, onde as pessoas depositavam moedas. Quando ele chegou perto dela, Rosa perguntou ao sacristão:
– Para que é este dinheiro?
– São ofertas que recolhemos para manutenção da igreja, para que possamos sempre rezar as missas dominicais e uma vez por mês rezamos esta missa, pelos falecidos. Por isto ela se chama missa dos mortos.
Rosa colocou a mão no bolso do surrado vestido, segurou a moeda de prata entre os dedos e por alguns segundos pensou que aquela era a única moeda que tinha. Com um valor muito superior ao das moedas colocadas no embornal pelos cavalheiros e damas da sociedade, aquela moeda poderia matar-lhe a fome por alguns dias. Mas como não tinha mais nada a oferecer, não titubeou e colocou-a no embornal do sacristão.
Terminada a missa, esperou, no fundo da igreja, que todos saíssem e quando se viu sozinha assentou-se no último banco e ficou alguns minutos admirando toda a beleza daquela igreja. Olhando fixamente a imagem de Nossa Senhora do Pilar, no altar, implorou à virgem que encaminhasse aqueles para os quais rezara aquela missa.
(Continua na próxima edição)