Valdete Braga
– Você não sai?
– Saio, claro. Por que?
– Sai nada, nunca te vejo na rua.
– A rua é grande, né?”
Chegou a minha vez de ser atendida e perdi o resto do diálogo, mas esta parte foi o suficiente para prestar atenção, porque me identifiquei. Embora o último comentário não tenha sido exatamente simpático, entendo perfeitamente a falta de paciência contida na resposta enviesada da pessoa interpelada.
Existe por parte da maioria das pessoas uma cobrança pelo outro “sair” que às vezes irrita, mesmo. Obviamente, não é aconselhável e nem é o caso, ninguém ficar enfurnado dentro de casa por dias, semanas a fio, sem ver o movimento externo, mas também esta cobrança de sair por obrigação é muito chata.
Vivemos tempos em que muitos, praticamente todos os nossos compromissos podem ser resolvidos de casa, já se foi o tempo em que as pessoas se encontravam em datas específicas em Bancos, lojas e afins. Dependendo da atividade exercida, não se sai de casa nem para trabalhar, e isto não precisa ser ruim, depende de como cada um lida com isto.
Quando ouvimos “você não sai” a impressão é a de que só ficamos em casa, e o fato de determinado amigo ou colega não nos ver fora dela não significa que não estejamos lá, daí achei muito interessante a resposta “a rua é grande”. Aliás, o que incomoda não é nem o comentário em si, mas o tom com que é feito, como uma censura ao estilo de vida do outro.
Não é só saudável, como também é muito bom, sair, ver pessoas, seja por trabalho ou lazer, ou simplesmente para aquela “voltinha” em um final de tarde agradável, entrar em uma loja em época de compras virtuais, sentar em uma lanchonete, tomar um sorvete… há muito o que se fazer, trabalhando ou nos divertindo, mas isto deve ser feito por vontade, e, caso seja por necessidade, que esta necessidade não seja algo ruim. Sair por sair, só para não ficar em casa, não agrega em nada.
Será que a amiga que cobrou da outra não a ver na rua costuma convidá-la para um café, uma compra juntas, um bate papo, quiçá irem juntas ao supermercado? Será que liga para saber como a outra está, só por gentileza, sem um motivo específico? Pode ser, mas pelo perfil deste tipo de pessoa, acho difícil. A maioria só quer mesmo criticar.
É diferente encontrarmos alguém e a pessoa dizer “você está sumida” ou “há quanto tempo não te vejo”, e frases afins. São frases que contém o mesmo significado, mas a intenção é outra. A diferença está no tom, que demonstra que não se vêem há tempo, mas sem crítica por isto. Pessoas educadas agem assim.