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A maior culpa é nossa

Por Valdete Braga

“- Estou cada vez mais decepcionado com os nossos políticos.

– Você ainda se decepciona? Eu nem ligo mais, são todos iguais, nenhum presta.”

O tema que originou este diálogo foi o fiasco do depoimento de uma influenciadora digital na CPI das bets, amplamente divulgado, onde a moça foi “tietada” por alguns senadores, chegando a fazer “selfies” durante o interrogatório. Foi realmente um show de horrores e motivo de vergonha nacional para alguns, mas daí a generalizar assim é um pouco de exagero. Digo “um pouco” porque, infelizmente, o número de políticos sérios só diminui a cada nova eleição, quando deveria ser o contrário, e, também infelizmente, este não é um fenômeno só no Senado, ele se espalha para todas as instâncias, federal, estadual e municipal.

Vivemos uma era surreal, onde os valores estão deturpados, onde o antes “tudo por dinheiro” tornou-se “tudo por engajamento.” Na verdade, acaba dando no mesmo, se considerarmos que engajamento também resulta em dinheiro, mas é muito triste que este pensamento chegue à esfera política.

Quando o eleitor diz “nenhum deles presta”, não é bem assim. Quero crer que ainda existam políticos sérios e comprometidos, e quero crer também que eles existam em todas as esferas, nacional, estadual e municipal.

O que acontece é que o político sério está preocupado com coisas maiores, e o seu “engajamento” não vem da internet ou das redes sociais, mas do seu compromisso com o que realmente importa. A triste verdade é que, talvez por isto mesmo, não fique “conhecido”, o que reforça o pensamento do diálogo.

No caso específico do acontecido na CPI das bets, um destes políticos poderia ter pedido a palavra e dito, educadamente, alguma coisa para impedir o absurdo em que se transformou tudo aquilo. Talvez um simples pedido de respeito para com a Casa Legislativa resolvesse.

Por que não o fez? Medo do “cancelamento”, por tratar-se de uma influenciadora digital, com não sei quantos milhões de seguidores? Possivelmente sim, e se for isto, este seria mais um exemplo do quanto a preocupação com o engajamento, não importa de onde ou porque venha, se sobrepõe a se fazer o certo.

Acontece em todas as instâncias, pois em todas elas parece que a seriedade só diminui, e aí vem a pergunta que não quer calar, com a resposta óbvia: De quem é a maior culpa? Nossa, que elegemos mal, sem avaliarmos, o mínimo que seja, quem é aquela pessoa além da sua imagem na internet.

Digo “nós” porque, independentemente do voto individual, em uma democracia, o que conta é a vontade da maioria, logo, mesmo com a consciência tranquila por não termos votado em A ou B, se é ele ou ela que está na cadeira, é ele ou ela quem nos representa. Triste representatividade.

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