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A lenda sobre as doutrinas

Por Valdete Braga
Reza a lenda que certa vez Buda visitou uma pequena vila, cujos habitantes lhe disseram:
– Senhor, alguns viajantes que passaram por nossa vila divulgaram e exaltaram suas próprias doutrinas e condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros. Depois, passaram outros que também, por sua vez, divulgaram e exaltaram as suas doutrinas e também condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros. E nós, Senhor, estamos em dúvida e perplexos, sem saber qual desses veneráveis expôs a verdade e qual deles mentiu.
Buda respondeu:
– É justa a dúvida que sentis, pois ela se originou de um assunto duvidoso. Agora prestem atenção: não vos deixeis guiar pelas palavras dos outros, nem por tradições, nem por rumores. Não vos deixeis guiar pela autoridade dos textos religiosos, nem por simples lógica ou dedução, nem por aparências, nem pelo prazer da especulação sobre opiniões, nem por verossimilhanças possíveis, nem por simples impressão ou pela idéia. Desde que souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são desfavoráveis, falsas e ruins, então renunciais a elas… e quando souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são favoráveis e boas, então deveis aceitá-las e segui-las.
Buda continuou:
Um discípulo deve examinar a questão mesmo quando o próprio Buda a propõe, pois o discípulo deve estar inteiramente convencido do valor real do seu ensinamento. Não acreditem no que o mestre diz simplesmente por respeito à personalidade dele.
Asoka, imperador da Índia no III século a C., seguindo o nobre exemplo de tolerância e compreensão de Buda, honrou e sustentou todas as religiões do seu vasto império. Deixou gravado em uma rocha: “Não devemos honrar somente nossa religião, condenando as outras. Devemos, acima de tudo, respeitar todas as crenças, pois sempre há algo a ser apreciado, por esta ou aquela razão. Agindo desta forma, glorificamos nossa própria crença e prestamos serviço às demais.
De outro modo, prejudicamos a nossa própria religião e fazemos mal à dos outros. Por conseguinte, que todos escutem e estejam dispostos a não se fecharem às doutrinas professadas pelos demais.
Tais ensinamentos, que remontam a antes de Cristo, servem até hoje e até hoje há quem precise aprendê-los. Intolerância não leva a nada positivo, qualquer que seja ela, e a intolerância religiosa nunca esteve tão presente em nossos dias, em um flagrante retrocesso da humanidade.
As histórias de Buda, repassadas, como esta, através dos anos, de geração em geração, como lendas ou tidas como verdades, fazem pensar. 
Sejam lenda ou história real, é importante que os ensinamentos continuem, pois ainda há muito para se aprender.

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