Reza a lenda que, certo dia, ao escurecer, no alto do Himalaia, um vento frio e cortante começou a soprar. Juntamente com as frias rajadas, vinham nevascas, que tornavam as montanhas escuras e geladas.
Perdidas no ruído do vento uivante, duas pequenas vozes se ouviam:
– Está realmente frio hoje! Disse a primeira voz.
– Se ficar mais frio podemos até morrer. Podemos morrer congelados. Oh, está tão frio! Disse a outra.
Estas vozes eram de dois passarinhos que, como duas bolas de penugem, aconchegavam-se no galho de uma velha árvore curtida pelo tempo.
Na altitude em que viviam, a neve dificilmente deixava a terra, mesmo em pleno verão. Durante o dia, quando o sol aparecia, esquentava tão pouco que quase não se percebia. Este era o problema deles. Quando o frio chegava, sempre prometiam fazer um ninho para protegerem-se à noite, mas, durante o dia, quando o sol saía, passavam o tempo todo brincando, para aproveitar o fraco calor. Agora, estavam amargamente arrependidos, e se lamentavam.
– Quando o sol vier, vamos fazer um ninho. Desta vez não vamos esquecer.
O frio era tão intenso que nem conseguiram dormir. Durante a noite toda, choraram e se queixaram, prometendo fazer um ninho logo que o sol nascesse.
Não faltava muito para darem o último suspiro. Suas vozes enfraqueceram e os corpos caíram.
Quando parecia tarde demais, um raio de sol surgiu no penhasco, chegando até eles, aquecendo suas penas congeladas.
Ah… o sol está tão bom! Disse um deles. Vamos dormir um pouco, pois não dormimos a noite inteira.
– Mas e o ninho? Perguntou o outro.
– Não se preocupe com isto. Faremos o ninho quando acordarmos.
Assim, eles dormiram e comeram, apreciando o calor do dia. Começaram a brincar e continuaram por várias horas, até perceberem que estava começando a ficar frio. Pensaram: “o sol está baixando e, mesmo que comecemos, não há tempo para terminar o ninho. Vamos aproveitar o restinho do calor.
Assim, eles esbanjaram o resto do dia. Não demorou muito para ficar frio outra vez, e naquela noite também se ouviam as vozes dos pássaros:
– Está realmente frio hoje.
– Está ainda mais frio do que ontem.
– Se esfriar mais não vamos sobreviver até amanhã. Oh, que frio!
E assim os dois pássaros viveram o resto de suas vidas, desperdiçando totalmente os dias e sofrendo durante as noites.
A moral desta história é que podemos evitar o sofrimento desnecessário, se não esquecermos a promessa que uma vez fizemos para impedi-lo.