Valdete Braga
Diz a lenda que, em tempos longínquos, existia um homem muito rico. Viveu uma vida inteira de luxo e, à medida que envelhecia, passou a perceber que não havia feito nada de real valor durante a sua vida, vivendo apenas para o superficial.
Decidiu então tornar-se monge, e para isto mudou-se para uma grande floresta. Passou a praticar meditação e exercícios que o libertaram de pensamentos frívolos, alcançando uma paz interior que sua riqueza nunca lhe fornecera.
Com o tempo, a fama daquele homem foi crescendo e foram chegando seguidores, cada vez mais encantados com ele.
Naquela época, os monges eram geralmente homens sérios, alguns até sisudos, mas perto dali existia um jovem aprendiz que estava sempre sorrindo e aparentando felicidade. Chegaram a perguntar para ele porque ele sempre tinha um sorriso no rosto, e ele respondeu que se contasse, ninguém acreditaria. O velho monge simpatizou com o jovem e fez dele seu assistente.
A estação chuvosa chegou e o rei da cidade ofereceu ao monge e seus seguidores o jardim do seu palácio para se abrigarem.
O rei também era um homem bondoso, mas devido às inúmeras responsabilidades com o reino, não conseguia ser feliz.
Passada a estação das chuvas, o monge e seus seguidores se preparavam para voltar à floresta, quando o rei o procurou com uma proposta.
– O senhor está idoso – disse – é perigoso morar na floresta. Se quiser ficar morando no palácio, será uma honra hospedá-lo.
O monge ficou agradecido e aceitou o convite. Elegeu o jovem assistente como seu sucessor e ficou no palácio, enquanto os demais retornavam à floresta, sob a liderança do jovem.
Algum tempo depois, saudoso do mestre, o jovem resolveu fazer-lhe uma visita no palácio. Já bastante fragilizado, o monge mais velho não conversava muito, e o mais jovem ficou ali parado, sempre com um sorriso a iluminar-lhe o rosto. O rei então perguntou ao idoso porque aquele jovem estava sempre tão feliz, e o monge contou-lhe a história do seu sucessor.
– Majestade, esse jovem era um rei, tão poderoso quanto o senhor. Vivia cercado de guardas armados, e sua visão de tantas armas o incomodava, até que um dia abandonou toda a sua riqueza e foi viver na floresta. Longe de armamentos e pensamentos pesados, encontrou a paz, por isto vive sorrindo.
O rei refletiu sobre a sua vida, repleta de poder e riqueza, mas também sempre protegido e sem poder sair de casa sem uma guarda armada a protegê-lo, pelo risco de poder ser morto por inimigos de outros reinos.
Entendeu porque era tão difícil para ele conhecer a felicidade que sentia naquele que um dia fora poderoso como ele e agora, sem poder ou fortuna, sorria tão espontaneamente.