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A lenda do grão de mostarda

Por Valdete Braga
Conta a lenda que o filho de uma jovem morreu prematuramente. Desesperada em sua dor, a jovem percorreu toda a aldeia em busca de um remédio que trouxesse seu filho de volta à vida. As pessoas diziam “Ela perdeu a razão, a criança está morta e nada se pode fazer”.
Em sua peregrinação, a mãe finalmente encontrou alguém que deu resposta à sua súplica: “Eu não conheço remédio para o seu filho, mas conheço um médico que poderá fornecê-lo a você”.
Ela respondeu: “Eu te suplico, diga-me quem é essa pessoa” e o homem disse: “Vá procurar o Buda”.
Ela foi até ao Buda e lhe implorou, aos prantos: “Senhor, por favor, dê-me um remédio para curar o meu filho”.
O Buda respondeu: Posso curar o seu filho, basta trazer-me um grão de mostarda”.
Radiante, a jovem respondeu que logo voltaria com o grão, ao que Buda acrescentou: “No entanto, deves receber o grão de uma família onde nunca tenha entrado a morte”.
Aflita, ela foi de casa em casa pedindo a semente de mostarda. As pessoas ficavam com pena e lhe davam a semente, mas quando ela perguntava: “Vós perdestes, em sua família, um filho, uma filha, um pai, uma mãe?”. Eles respondiam: “Ah! Poucos são os vivos e muitos são os mortos! Não despertes a nossa dor”.
E assim ela não encontrou uma única casa em que não tivesse a tristeza pela morte de um ente querido. Fatigada e desesperada, ela sentou-se em uma árvore ao voltar para casa, contemplando as luzes da aldeia. Estas se enfraqueceram, depois logo se apagaram. A escuridão tomou conta do lugar. Ela pensou no destino do homem cuja vida se enfraquece, depois se apaga, e disse consigo: “Que egoísta sou em minha dor! A morte é o destino comum. Sem dúvida há neste vale de desolação um caminho que leve à imortalidade que desenraize todo egoísmo”.
E, dominando o egoísmo do seu amor pelo filho, a jovem retornou à casa. Sofrendo, mas sem revolta, cuidou do funeral e voltou a procurar o Buda. Nele se refugiou e encontrou consolo.
O Buda, então, disse: “A vida dos mortais sobre a terra está envolta, atravessada e alterada pela dor. Porém não há nenhum meio para aqueles que nascem deixarem de morrer, assim o quer a natureza dos seres vivos. Da mesma forma como os frutos maduros chegam ao ponto de cair da árvore, também os mortais, desde o instante em que nascem, caem no poder da morte. Todos são submissos a ela. A morte não é o fim, é a transcendência para um novo Plano, para onde todos irão, a seu tempo”.

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