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A diferença entre visitar e morar

Uma amiga muito querida tem o sonho de morar em Ouro Preto. É apaixonada pela cidade, mas como mora muito longe (é do Nordeste) tem poucas oportunidades de visitar. Quando pode vir, se encanta, e sempre falou do “sonho” de morar aqui.

Não tem filhos e divorciou-se recentemente, e hoje, perto da aposentadoria, começa a vislumbrar a possibilidade de transformar o sonho em realidade. Não a desestimulo, de forma alguma, até porque é uma pessoa madura e consciente de suas decisões. Tem o “pé no chão” e não se arrisca a aventuras a esta altura da vida, mas fico sensibilizada e até triste vendo o sonho dela se deparar com uma realidade que poderia ser tão diferente!

Ao sair da imaginação para o mundo real, ela, como aconteceria com qualquer pessoa, começa a entender a diferença entre a Ouro Preto das propagandas, vídeos e fotos, para a cidade de nosso convívio, percebendo assim a discrepância entre ser visitante e morador desta terra linda sim, cheia de história, cultura e mistério sim, mas também real e palpável para quem vive nela.

Impossível não amar Ouro Preto, por tudo o que ela representa, mas não tem como fechar os olhos para os seus problemas, que são muitos. Todas as cidades têm os seus problemas, claro, mas em se tratando de cidades históricas e turísticas, estes problemas se multiplicam. Em se tratando dos dois casos em uma cidade só, fica mais difícil ainda.

Ouro Preto são os dois, história e turismo, o que a torna ainda mais difícil para se viver. Em época de festas, que atualmente é praticamente o ano todo, suas dificuldades ficam ainda mais evidentes. Muitos dizem “é impossível sair de casa”, e não estão errados. Moradores não são turistas ou estudantes, que por aqui passam por cinco anos ou pouco mais, e seguem para a vida adulta em outros locais. A população flutuante é muito grande e para ela, assim como para turistas, quanto mais eventos e festas, melhor, mas para quem mora é muito diferente.

Nada contra eventos e festas, muito pelo contrário. Quando o cidadão ouro-pretano “fala mal” das festas aqui realizadas, não é das festas que ele está “falando mal”, e nesta expressão cabem todas as aspas possíveis, e sim da necessidade de uma estrutura muito bem montada para que elas aconteçam.

É muito bom termos nossas tradições e festas, e ninguém, em sã consciência, morador ou turista, jamais desdenharia disso, não cabe “falar mal”, de jeito nenhum. A questão a ser levantada é a estrutura da cidade, que precisa atender igualmente a todos, e indo mais além, priorizar os moradores.

Infelizmente, estamos percebendo o contrário, e é isto que a minha amiga começa a entender. Por enquanto, ela é prioridade para a cidade, mas e quando virar moradora, como será?

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