UM MORADOR atual da região dos Palmares, lavrador, chamado José Maria definiu Zumbi de “O grande general negro”. Hoje, o que se divisa do alto da Serra da Barriga (uma região selvagem do Sertão de Alagoas, na época parte da Capitania de Pernambuco) são extensos canaviais pertencentes aos grandes latifundiários modernos, aos ditos reis do engenho de açúcar, como João Lira, pai de Tereza Collor.
Vilma Gryzinski descreve este grande herói negro assim: “Ele era baixinho e magricelo. Coxo, mancava da perna esquerda, por causa de um mal curado ferimento à bala. Foi batizado com o nome de Francisco pelo Padre Antônio Melo que morou em Porto Calvo, uma Vila próxima de Palmares. Ele fora presenteado ao Padre pelo Capitão Brás da Rocha Cardoso em 1655. Aprendeu o Latim e o Português com facilidade. Aos 15 anos fugiu para os Palmares”.
Sua história é fascinante, cheia de lances heroicos, de estratégias e lutas memoráveis.
ZUMBI SIGNIFICA “Deus da Guerra”, negro de singular valor, grande ânimo e constância rara. Ficou vivo mesmo quando Manoel Lopes, Sargento-mor comandou uma expedição contra os aquilombados em 1675 nos Palmares, ferindo-o à bala. Teve grande influência de Ganga Zumba, o unificador dos quilombos militarmente e os governava através de um Conselho formado por chefes de aldeia e cabos de guerra. A sede era Macacos, na Serra da Barriga.
Zumbi é um herói ousado. O quilombo representava uma vida mais perigosa do que a senzala, mas teve a grande atração de que seria a única forma de nele, unidos, fortalecidos, aquartelados, os negros (criando uma estrutura econômica) teriam a grande chance de protestarem contra a escravidão. As classes dominantes da época eram radicalmente contra e tudo empreendiam para destruí-lo.
Numa ousada hipérbole pode-se dizer que “rios de sangue” correram para a extinção dos Palmares com a morte violentíssima de seu grande líder Zumbi. Eis a descrição da sua morte, depois de traído pelo seu irmão de cor Antônio Soares:
“O corpo de Zumbi estava cruelmente mutilado, exibindo quinze ferimentos de bala e muitos de lança, vendo-se ainda que o membro da virilidade havia sido cortado e enfiado na boca, também lhe faltando um olho e se lhe cortada a mão direita. Sua cabeça foi decepada, enviada a Recife, posta em um pau no lugar mais alto da Praça”. Estas façanhas ignóbeis se devem ao talento da maldade de Domingos Jorge Velho, Bernardo Vieira de Melo, André Furtado de Mendonça, e à traição do mulato Antônio Soares.
ENFIM, “A maior parte das barras, torrões, pepitas, moedas, joias e peças de ouro que resistiram ao tempo não está em museus ou coleções particulares, mas sim em cofres do governo, em Lisboa, longe dos olhos do grande público. No arquivo Nacional de Paris e no arquivo do Ministério das Relações Exteriores da França tem cartas de até 300 anos em que espiões franceses descrevem a explosão da produção aurífera em Minas. Isto, para bancar o luxo da nobreza portuguesa e a construção de palácios, monumentos e catedrais; o ouro de Minas correu para a Europa, e a Inglaterra foi também um de seus principais destinos” (O Ouro de Minas, Caderno do Estado de Minas, pág.05, 15.05.2005).
Zumbi foi martirizado por causa de seu povo escravizado. Comemora-se aos 20 de Novembro o “Dia da Consciência Negra”.