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A Cidade e Eu
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Saudação a Nossa Senhora da Boa Viagem

NO INTERIOR da Igreja da Boa Viagem, no alto de seu trono, há mais de 250 anos, está a estátua da Virgem, com o dedo da mão direita apontando para o teto, para a abóboda, para o céu. Quantos homens, mulheres, crianças passaram e passam nas naves seculares deste templo. Quantas pessoas sãs, doentes, ricas, pobres, grandes, pequenas, crentes, céticas, pecadoras ou santas, desfilaram no seu interior. Quantos cristãos convictos ou não se ajoelharam ante a seu altar, para cultuá-la. A sua homenagem é quase trissecular. As gerações do passado e do presente confundem suas vozes, em prece, no interior desta matriz, datada de 1745.
DORAVANTE, “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada”, é a expressão de Lucas em capítulo I, § 48, para relacionar Maria com todo o universo humano. Se nós, cristãos calarmos, as pedras falarão, não há dúvida. Na verdade “Toda bela és Maria e não há mancha em ti” (cânticos, 4, 7). Célebre pintor norte americano, Jaime Whistler, enviou em 1883, ao salão de arte em Paris, o “Retrato de sua Mãe”, uma verdadeira obra-prima! Aplaudida de pé. “Quanto mais uma coisa se aproxima de sua origem, tanto maior é a perfeição que dele recebe”, diz Santo Tomás. Ora, Maria é Mãe de Deus, portanto está na raiz divina, logo mais perfeita. Ou como diz Cura D’Ars: como “os peixinhos se geram na água, ela se gerou nas graças”, porque mãe do verbo encarnado.
A Virgem presenciou o passado, assiste o presente, protege o futuro. Nele se mistura numa profissão de fé incontida e inabalável a força do velho e do jovem, do homem e da mulher, do sacerdote e do leigo, do doente e do sadio, da criança e do adulto, do sábio e do ignorante, do rico e do pobre, dos cidadãos e dos forasteiros. Bendito seja o dia em que a Efígie de Maria aportou nestas terras, pelas mãos de Francisco Homem Del Rey e de Luiz de Figueiredo Monterroio, e, introduzida na ermida que encimava esta colina. Colina esta que viu nascer o passado, que viu surgir uma cidade, que viu formar um município nos idos de 1923. De Paulo Carvalhosa de Castro (1721) a Miguel Ângelo Fiorillo (1982), da humilde capelinha de antanho à majestosa Matriz de hoje, o milagre da fé foi sempre o mesmo: grande, explosivo, espontâneo, esclarecido e participativo!
Deus investiu grande na personalidade da Mãe de Cristo. E num passe divino assumiu-a em corpo e alma em sua mansão celestial antecipadamente. É dogma cristão desde 15 de agosto de 1950, pelo magistério infalível de Pio XII. É nela, que a fé do povo itabiritense, ala católica, assenta as bases de sua vida religiosa. Numa efígie de Maria exposta numa ermida, onde hoje está a matriz. O povoado cresceu sob o manto de sua grande protetora, cujo milagre estupendo é a conservação da fé. Basílio Machado chamou a Espanha de “Dote de Maria”, chamou a França de “Reino de Maria”, chamou a Inglaterra de “Feudo de Maria”, chamou a Hungria de “Família de Maria”, chamou a Portugal de “Terra de Maria”, chamou o Brasil de “Posse de Maria”.
ITABIRITO pode ser considerada o “Barco de Maria”, pois Del-Rey, o piloto da “Nau Senhora da Boa Viagem”, que ficou abandonada na Ilha das Cobras, conservou da velha embarcação apenas o “Nicho com o retábulo da Senhora Padroeira do barco”. Este nicho foi guia, o companheiro de Del-Rey na sesmaria de Borba Gato. “A Virgem do Nicho” é a mesma retratada na imagem da nossa Padroeira. Os séculos passarão, mas as palavras de Maria permanecerão na integridade de sua mensagem à prima Izabel: “Todas as nações me chamarão bem-aventurada”.
Cada ano, aos 15 de agosto, data de sua Assunção aos Céus, a Mãe espiritual de todos nós, há de receber a homenagem de todas as gerações de itabiritenses. Lembre-se: “Onde Maria passa tudo desembaraça”.

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