Por João de Carvalho
SENTENÇA: Diante de Pilatos está Jesus. Os anciãos, os sumos sacerdotes, os fariseus, os saduceus, os judeus tradicionalistas e asseclas amotinaram o povo contra o doce Rabi da Galileia. Pilatos, o fraco, o covarde, o interesseiro, o medroso, lava as mãos (quando devia lavar a consciência) no mais pusilânime gesto da insensatez, diante de um auditório repleto somente de acusadores, deixando na água onde lavou as mãos: a incompetência, a fraqueza, a vergonha, o medo, a covardia, em nome do poder que tão mal representava. Pilatos mandou flagelar o Cristo, sem motivo; trocou Jesus por Barrabás, sem razão; ordenou a crucifixão, portanto Sua morte, sem defesa. Usou vergonhosamente do poder por causa do poder. Entregou o cordeiro aos lobos rapaces. Enxergou nele a inocência, mas não teve pulso para decidir a seu favor, com medo de perder o trono da palestina. Pilatos, símbolo de um poder corrupto, fraco, inconsequente.
APLICAÇÃO: Hoje, o povo simples, os pobres, os oprimidos, os encarcerados, os doentes, os asilados, os drogados, os meninos de rua, os sem terra, os abandonados, os desempregados, os velhos, são esquecidos pelos poderosos e pelos enriquecidos da corrupção. Que importa suas semelhanças com o Senhor? Que importam suas vidas se a de Cristo foi decidida na covardia? O que na realidade interessa, é a riqueza, para satisfazer sua ambição desmedida. O que interessa, é estar de bem com o poder central, com aqueles que ocupam lugar de destaque na sociedade. São como Pilatos que queria estar de bem com as representações da Judeia, para auferir vantagens pessoais da nobreza Romana, especialmente de César.
Que morra alguém do povo: que incomoda, que reprova, que acusa, que defende a verdade e a justiça, que exalta a liberdade, que promove a fraternidade, que implanta o amor ao próximo. Que morra alguém que não tem proteção, que reclama contra a fome, que se humilha pelo desemprego, que não tem salário digno, que é discriminado, que é fraco, que é pobre, que não tem nome, que contesta a nobreza, que apenas começa a crescer, que apenas ameaça sobressair, que tem talento, mas não tem voz. Pilatos, o covarde, fez estas perguntas ao Cristo, apenas para se justificar perante a sociedade poderosa da época: “Tu és o Rei dos Judeus? Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam? E ao povo: Quem vós quereis que eu solte: Barrabás, ou Jesus, a quem chamam de Cristo? Qual dos dois? Que farei com Jesus que chamam de Cristo? Mas, que mal ele fez?” Pilatos concluiu, covardemente: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é um problema vosso”. O Juiz, sem ouvir as razões do condenado, com toda a parcialidade, decretou a morte de Jesus. Antes, porém, ao arrepio da lei, mandou açoitá-lo impiedosamente, para depois, ser crucificado. Vergonha do Poder submisso à vontade das correntes religioso-políticas da época.
EM SUMA, “Ser advogado é agir como agiu o primeiro e mais sublime dos advogados. Aquele que defendeu a suprema pecadora pública sem fazer apologia ao pecado! É colocar-se intimoradamente ao lado do pior criminoso, pugnando por um julgamento justo, humano e conforme as leis” (Ariosvaldo de Campos Pires). Cristo foi condenado sem defesa! Ao seu lado só compareceram acusadores e carrascos. Não sobrou lugar para a justiça. Os dois poderes de então, via representantes, temiam a presença e a doutrinação do Filho de Deus. Concluíram, vergonhosamente, pela eliminação de seu desafeto. Assim foi o desfecho injusto da Sexta-feira da Paixão! Um inocente crucificado sem defesa.