Por Mauro Werkema
Velha anedota diz que Deus, ao criar o mundo, excluiu o Brasil de grandes desastres naturais: não temos vulcões, terremotos, ciclones anuais, grandes vendavais, tsunamis, grandes incêndios florestais. Mas o mundo se transforma e nem sempre para o bem ou para tornar melhores o nosso planeta, que habitamos. E o Brasil não está excluído. E na atualidade começamos a ter desastres naturais ligados a chuvas intensas no Brasil, inclusive com a ocorrência de ciclones, como dramaticamente está ocorrendo no Rio Grande do Sul. Os estudiosos do clima atribuem tais ocorrências às mudanças climáticas, repetidamente previstas e anunciados pelos especialistas, com a advertência de que vão continuar, pois os países não conseguem evitar a contínua destruição do meio ambiente.
Já são muitas as conferências internacionais que nos advertem que a destruição da natureza, em curso acelerado, nos levaria a tais acidentes. Tivemos a famosa Rio92, no Rio, que elaborou alerta pioneiro sobre as questões climáticas. E muitas outras ocorreram pelo mundo, com destaque para a também conhecida Carta de Paris, de que o Brasil é signatário. Mas que, segundo os estudiosos do clima, não é respeitada nem cumprida integralmente. E o mundo, em todos os continentes, revela esta displicência internacional com as ocorrências climáticas, que destrói milhares de vidas e destrói valiosos recursos naturais.
A destruição da Amazônia, com seu desmatamento, incêndios, invasão de garimpo ilegal, está na pauta internacional. E o descaso governamental, acentuado e denunciado internacionalmente no destrutivo governo de Bolsonaro, colocou o Brasil nas pautas negativas de todo o mundo, provocando o cancelamento de recursos vultosos enviados para os programas de proteção da floresta e seus recursos naturais. Felizmente a proteção da Amazônia tornou-se prioridade absoluta no governo Lula que, com sucesso, mas com imensas dificuldades, devido às suas dimensões extraordinárias, vem reduzindo as muitas agressões criminosas à floresta e suas populações originárias.
A Defesa Civil Nacional acaba de divulgar dados muito preocupantes sobre o aumento dos desastres ambientais no Brasil e o seu elevado número de pessoas atingidas: foram 890.188 atingidos, entre mortos, feridos, desabrigados e desaparecidos. E foram registradas 2.576 ocorrências, como chuvas intensas, enxurradas, alagamentos, inundações, mas também secas prolongadas, deslizamentos de encostas e soterramento de pessoas. E a grave ocorrência de transbordamento de rios, saindo dos seus leitos e levando populações inteiras a deixar suas casas para sobreviverem. Estas ocorrências aumentaram 402% em comparação com 2012, segundo a Defesa Civil Nacional. E ainda não temos dados exatos sobre 2023, ano em que tivemos muitos desastres.
O aquecimento global é apontado também como consequência do descuido ambiental. Ondas de calor acabam de acontecer no Brasil, com registro de temperaturas acima de 40 graus, com várias consequências. E o fenômeno ocorre também em vários outros países. O calor intenso é apontado com causador de vários desastres. O mundo vai perdendo a classificação dos períodos climáticos e as estações anuais, antes perfeitamente previsíveis quanto à temperaturas, o regime de chuvas, o renascimento de plantas, flores e frutos. Basta ver este ano no Brasil. E tudo isto muda a natureza os seus ajustes de vidas, humanas, animais e vegetais. Alcança negativamente também a produção de alimentos.
O mundo, segundo os climatologistas, ainda carece de um esforço maior para conter as alterações climáticas e a destruição da natureza. A meta de reduzir em 50% as emissões de gases poluentes e de produção de carbono para a atmosfera não estão sendo atingidas. Na última conferência da ONU sobre o clima o secretário-geral fez previsões gravíssimas sobre o futuro do mundo e previu desastres ainda maiores. E não se consegue ume esforço global. Estados unidos e Chinas, maiores poluentes, não concordam e não praticam as ações recomendadas porque não querem reduzir suas indústrias poluentes.
No Brasil a vulnerabilidade de populações, cidades e recursos naturais é imensa. São muitas as áreas de risco, especialmente nas ocupações de áreas instáveis, por sua aclividade e geologia. Basta ver Ouro Preto. Ou Belo Horizonte. Remover estas populações exige elevado investimento. O Ministério do Meio Ambiente está elaborado programa para mitigação e adaptação a eventos climáticos extremos, calamidades e desmoronamentos. E prevê a capacitação dos órgãos da Defesa civil, para identificar áreas de risco e antecipar desastres, com alertas às populações e seu treinamento para retiradas emergenciais. Mas falta também planejamento urbano para evitar ocupações perigosas e desordenadas, provocadas pela pobreza, pela desigualdade social.
Este é o novo mundo, que nossa geração assiste e sofre. E cabe a ela realizar as mudanças para conter a destruição climática e permitir que o mundo viva um novo tempo, mas seguro, mais saudável, com maior respeito à natureza. É hoje o maior desafio.
maurowerkema@gmail.com (Jornalista e historiador – 99612-3533)