Nylton Gomes Batista
Nos dois textos anteriores, focou-se na decadência contínua do caráter e inversão de valores, fenômeno que, embora restrito a pequena parcela da sociedade, afeta a todos em seus resultados. Como causa primária, aponta-se o descuido na educação geral, a começar do berço, passando pela escola e outras instituições, aprimorando-se no convívio social; sim, aprimorando-se, porque a educação nunca se completa. É contínua, acompanha a evolução!
Na intrincada malha do convívio humano, fios de diferentes gerações se entrelaçam, na formação de um tecido de experiências compartilhadas, que resultam em crescimento e sabedoria. A interação entre infância e juventude com idosos não deve ser apenas casual, mas uma relação simbiótica, ou seja, que favoreça ambas as partes, em crescimento, aprendizado e preservação cultural. Lamentavelmente, essa interação está a se enfraquecer, distanciando, emocionalmente, os dois extremos da vida humana, quando deveriam mais se fortalecer, a bem da própria evolução, em todos os sentidos. Vê-se que esse distanciamento cresce, na mesma proporção do desenvolvimento tecnológico, um paradoxo cruel, quando analisadas e comparadas as condições de antanho e as do momento.
Por falta de interação pessoal, entre as mais baixas e as mais altas faixas etárias, a formação humana perde oportunidade de se beneficiar, pois os valores éticos, a empatia e o respeito são transmitidos não apenas por meio de palavras, mas também por meio de exemplos vivos, pessoas de idade avançada e mais experiência de vida. É aí que a educação geral ganha grande e valorosa contribuição, crianças e adolescentes a receber, diretamente da fonte, a informação sobre acertos e desacertos com relação a experiências vividas. A atenção sobre fatos do passado pode servir como ponto de partida para observância de cuidados a evitar que erros se repitam.
O que mais pode pesar na autoestima, de quem se aposenta e avança em idade, é a sensação de descarte, de inutilidade e de ter chegado ao fim da jornada. Para essas pessoas, a convivência com crianças e jovens é oportunidade de renovar a própria visão de mundo, atualizando-se, pondo-se em dia com as novidades, sem perda do direito a críticas quanto ao que lhes concerne. A energia e a espontaneidade dos mais jovens reavivam memórias e estimulam a criatividade, que não se perde quando a mente se mantém ativa. Além disso, a sensação de serem ouvidos e valorizados, pelos mais novos, fortalece a autoestima e a sensação de pertencimento. Sentem-se também reconhecidos e mais valorizados, quando suas histórias são ouvidas com atenção pelas gerações mais novas. Esse respeito mútuo fortalece os laços familiares e comunitários, criando uma rede de apoio essencial para o bem-estar de todos.
Com exceção de algumas iniciativas, pouca importância se dá a um detalhe, presente tão somente na memória de quem acumula experiências de vida, não importando sua condição socioeconômica, porém sua capacidade de observação e de memorizar fatos. Não é necessário serem figurões! A depender de sua saúde mental, tais pessoas podem ser verdadeiros arquivos vivos. Sua interação com os mais jovens constitui oportunidade única de acesso a relatos importantes relacionados à história local, porém não registrados de forma oficial. Lembranças de tempos passados, mudanças na paisagem urbana e transformações sociais são narradas pelos mais velhos com detalhes, que os livros de história, muitas vezes, não conseguem alcançar. Essa troca de informações entre os dois extremos da jornada humana contribui para a manutenção da história local, enquanto forma futuros cidadãos e premia, com reconhecimento, a vida daqueles que ajudaram a escrevê-la. A sensação de serem úteis e valorizados, pelos mais jovens, impacta, diretamente, a saúde física e mental dos idosos, causando a sensação de pertencimento, enquanto a troca afetiva reduz o isolamento social e fortalece o sistema imunológico.