Nylton Gomes Batista
Há quem não goste, mas, inegavelmente, viajar pode ser uma das experiências mais enriquecedoras e prazerosas que se pode ter na vida. Quem não gosta não sabe o que é sair de sua zona de conforto, explorar o desconhecido, contemplar novas paisagens, fazer novos contatos, quiçá novas amizades e mergulhar em novas culturas. Cada viagem pode ser uma história, um livro que se escreve com todo o SER e se guarda na memória; tudo isso a depender, é claro, do viajante, se sensível, bom observador e capaz de absorver a essência de suas vivências. Se nada disso é, a pessoa não tem mesmo como apreciar viagens!
Uma viagem começa muito antes do embarque; e não se fala aqui dos efetivos preparativos como aquisição do bilhete de viagem, reserva de hotel, organização do roteiro, preparo das malas etc. Tem início na imaginação, quando nela se pensa, pela primeira vez, criando e se expandindo a visualização, em paralelo com o desejo de se libertar da rotina por um período, ainda que breve. É quando, depois de análises e considerações, escolhe-se o destino, organiza-se o roteiro, decide-se pela via, lembrando que, se dentro do próprio país, a melhor via é a terrestre. Por terra, a viagem pode ser mais incômoda, porém é mais rica e oferece a vantagem da sucessão de paisagens descortinadas diante dos olhos, prova de novos sabores, estabelecimento de contatos e obtenção de mais informações, prováveis sugestões para novas viagens.
Quando se fala em novos sabores, é importante lembrar a tendência do quanto mais distante de sua cidade de origem, maior é a possibilidade de o viajante conhecer variações na culinária. Sendo o Brasil de grande extensão territorial, povoada por considerável diversidade de culturas, quem sai de seu domicílio, com disposição a explorar o país, encontra muitas novidades em costumes, hábitos, fazeres e, sobretudo, em produtos culinários. Há, portanto, que estar preparado porque, para se defrontar com o exótico na culinária, não é preciso saltar o oceano, encontrando-se no Brasil uma infinidade de práticas e costumes, quando o assunto é comer e beber; surpresas desagradáveis podem surgir.
Bom exemplo de como a pessoa deve estar atenta diante do desconhecido, no prato, é o pequi, fruta do cerrado, muito utilizada em algumas regiões do país. Sabe-se de gente que o mordeu, ao encontrá-lo no arroz, e foi parar no hospital. Para quem não conhece, a parte comestível é a polpa que envolve a amêndoa, amarela tal qual gema de ovo. Ela deve ser raspada com os dentes, jamais mordida, se não quiser ter o interior da boca crivado de espinhos, que forram a camada interior da amêndoa, requerendo-se serviços de socorro médico, para se livrar deles. Passeio com intercorrência de parada em hospital não está programado por ninguém, mas pode acontecer, quando se atreve e muito se arrisca! Essa é uma gafe séria, na vida de quem viaja, mas há outras, também perigosas.
Comportamentos, gírias e mesmo palavras normais, ou de uso comum, numa região, podem ser ofensas em outras. É o caso da palavra “moleque” que, em São Paulo, refere-se a qualquer menino ou garoto. Agora, diante um pai, no interior mineiro, refira-se ao seu filho como “moleque”; pode dar confusão das grossas! Em Minas, geralmente, o termo “moleque” refere-se a garoto mal-educado, garoto vadio e de maus costumes. Nesses casos, o fim da intercorrência pode ser numa delegacia de polícia; se desagradável, na localidade domicílio, pior ainda longe dela!
Quando não a negócios, viagem tem por objetivo a recreação, expansão do conhecimento, alívio do estresse entre outras razões de menor monta. Por isso não faz sentido, “escorregar” aqui e ali, em decorrência da atenção desfocada do objetivo principal, que pode ser a participação em evento tradicional de grande significado cultural; importante celebração religiosa; comemoração de data especial no calendário local; além de visita a museus, presença em espetáculos artísticos e visita a locais especiais. Viagem é para aprender, para conhecer, para se divertir, para relaxar! É, acima de tudo, um ato de liberdade, oportunidade de ser o que se é, ou se deseja ser num cenário diferente. É a possibilidade de criar memórias, fonte de futuros relatos, na idade provecta, diante de ouvintes descendentes e amigos, prontos para ouvir recordações e histórias, que alegram o espírito.