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Ponto de Vista do Batista
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No mundo da mentira

Outro bafafá a se desenrolar, na internet, é o das notícias falsas ou mentiras públicas, também conhecidas pelo povo como “boatos”, “conversas fiadas”, “conversas moles-pra-boi dormir” e outras mais. Embora tão velha quanto a humanidade, a notícia ou mentira é tratada como se coisa nova fosse! O Gênesis registra que Adão caiu no logro da serpente, quando esta lhe confidenciou, mentirosamente, que se tornaria igual a Deus, se comesse do fruto proibido. Desde então, mentira ou notícia falsa é parte da vida humana. 
Só agora entenderam de combatê-la! Por quê? Como virou moda, coisa velha vestir-se de roupa nova, deram-lhe nome em inglês (fake News) para parecer, a moradores do andar de baixo, tratar-se de coisa nova das mais sujas, algo como crime-sem-perdão, tremendo monstrengo social a ser abatido, a qualquer custo. Mentira ou notícia falsa é crime? Pode até ser, a depender do seu propósito, do que cause ou possa causar, em termos de danos físicos e morais. Deve ser combatida e punida? Deve, sim, na proporção do mal causado ou que possa causar e sem qualquer discriminação. A água suja deve ser lançada fora! O risco é que o bebê pode ir junto!  
A verdade nem sempre ganha divulgação, mas a mentira ganha força por meio de qualquer veículo, até “rádio peão”. Mesmo estando impedido de abordar setor mais rico em notícias falsas, posso apresentar, de outros setores, algumas entre as mais célebres e com maior repercussão. 
Em novembro de 1954, o Brasil foi sacudido de norte a sul pela tonitruante voz do Heron Domingues, apresentador do Repórter Esso, o então mais importante e ouvido informativo radiofônico. Segundo a notícia, disco voador teria pousado ou feito pouso de emergência na cidade de Caratinga-MG. A fonte era um telegrafista dos Correios e Telégrafos que, de Caratinga passara mensagem a um seu colega em Belo Horizonte. A repercussão teria sido maior e a cidade de Caratinga se entupido de repórteres se, na tarde do mesmo dia, o telegrafista não tivesse desfeito a confusão com a confissão de que tudo não teria passado de brincadeira com seu colega. Ele respondeu a inquérito administrativo, mas não sofreu nenhuma punição. Se o falso disco voador não foi além do impacto inicial, praticamente, não prejudicando a ninguém, a que conto, a seguir, trouxe preocupações, deixou muita gente sem dormir por algum tempo e prejudicou a economia. 
Transcorria o segundo semestre de 1958 quando, não se sabe como e de onde, surgiu estranhíssimo boato, que pôs a todos, até carecas, de cabelo em pé; e não era para menos. Segundo o que se propagava, carne de boi estava a afetar a masculinidade. Verdade ou mentira, pior notícia não poderia circular e, por via das dúvidas, como o seguro morreu de velho, bovinos passaram a viver mais, pois ninguém queria comer carne de boi. Imagine-se o que rolava paralelamente ao boato, sério e aterrorizante, especialmente entre o público masculino. Circulavam piadinhas de todo jeito sobre homens de andar rebolante e a falar fino! Pior é que algumas pessoas juravam ter visto homens, assim transformados depois de comerem da tal carne. Coincidentemente, quase sempre, eram as mesmas que já tinham visto “mula-sem-cabeça” e “lobisomem”! 
Nos primeiros dias, a carne sobrou também na mesa do antigo Colégio Dom Bosco, onde os alunos internos deixaram de comê-la. Alunos locais, semi-internos, fizeram a festa pois sabiam que a carne era procedente de animais criados em pastos próprios e não adquirida de terceiros, enquanto o boato dizia que o gado afetado era de determinada região de Minas. A situação persistiu por algum tempo, apavorou a população e causou prejuízos a muita gente. 
Naquela época, todo fato relevante era motivo de troça no carnaval do ano seguinte, razão pela qual, em 1959, fez sucesso a marcha carnavalesca “Boi da Cara Preta”, composta com base no tal boato.

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