Por Nylton Gomes Batista
Desde há alguns dias, o cachoeirense anda meio aturdido, ao circular pelo centro, tendo que encontrar alternativas para chegar até onde pretende ir, especialmente se está motorizado, o que na prática, é quase a maioria. A causa do desconforto é a grande obra de infraestrutura, troca de tubulação de esgoto, troca da rede pluvial e manutenção do calçamento, na Rua Santo Antônio. Para melhorar, infelizmente, por algum tempo, há que piorar. No fim tudo dará certo; espera-se. Entretanto, ainda que muito necessária, há sempre um resmungão aqui e ali, nem imaginando ele que, nos idos passados, muito se torcia para que uma obra fosse realizada e nada acontecia!
Da Prefeitura de Ouro Preto vinham fiscais para lançar tributos, e, de dois em dois anos, faziam-se capina e roçada das ruas, para que se realizassem as solenidades da Semana Santa. Devido aos altos custos, as solenidades da então também denominada Semana Maior não se realizavam anualmente. O resultado era que, durante dois anos, o mato crescia, à vontade, especialmente onde não havia edificação. Próximo às residências, os moradores cuidavam de manter limpo. Como o final da Rua Santo Antônio era um tanto deserto, ao fim de dois anos, dava fazer lenha naquele local. De vez em quando, pessoal da prefeitura era visto também no combate à saúva, formiga que imperava no pasto, onde hoje é o bairro Dionísio. Mediante uma máquina injetava-se uma fumaça fedorenta num dos buracos. Pouco depois, a fumaça brotava de muitos outros buracos no pasto. Os políticos nos visitavam de quatro em quatro anos e, assim como os de hoje, também mentiam e faziam promessas que não podiam cumprir. Certa vez, de um candidato em abordagem a suposta eleitora, moradora em rua desprovida de rede elétrica, foi ouvida a seguinte promessa: “ó dona fulana, a senhora faz força pra mim e eu dou a luz pra senhora!” Afora essas poucas ocasiões, nem se ouvia falar em prefeitura!
Dentro da comunidade, o ouro-pretano “trezentão”, orgulhoso de sua origem, não conhecia nada do seu município, à exceção das faixas laterais, primeiro da ferrovia, e, posteriormente, da primeira estradinha, a ligar Ouro Preto a Belo Horizonte. Fora da cidade, para ele era tudo roça e seu derivado, o roceiro! Alguns ainda assim pensam, mas já se aceita residir num distrito secundário, desde início de 1979, quando a antiga Vila Rica correu risco de desaparecer do mapa, devastada por chuvas torrenciais e contínuas durante cerca de quarenta dias. Atualmente, quando chove por três dias seguidos, já falam em dilúvio!
Portanto, gente, antes de reclamar há que reconhecer que, finalmente, fomos descobertos, existimos aos olhos da administração municipal e já não são somos tão roceiros assim!
Em qualquer localidade, há sempre um ponto que pode ser rua, praça, qualquer via pública, que se torna referência por circunstâncias especiais. Em Cachoeira do Campo, esse ponto é a rua Santo Antônio. Por ter passado a maior parte de sua infância e adolescência como morador da Rua Santo Antônio, este autor pode contar muita coisa sobre ela. Antes de tudo, tratemos de sua origem, a Rua de Baixo, assim denominada, popularmente, como alternativa à Rua de Cima, a primeira, que começava lá no alto, no caminho para Vila Rica e chegava até o centro e daí até a igreja de Nossa Senhora das Dores. Posteriormente, abriu-se a partir dessa primeira rua a derivação até a margem do Maracujá, onde se ergueu a ponte para se chegar ao Palácio da Cachoeira, residência do governador da capitania. Diga-se, de passagem, que alguns “trezentões” e historiadores ainda teimam em afirmar que o Palácio da Cachoeira era residência de veraneio, mas está na hora de desfazer essa mentira (hoje chamam isso “fake”), pois, evidências existentes são fortes demais, em favor do que aqui se afirma. Essa primeira rua, a Rua de Cima, posteriormente, foi dividida em três secções: Rua Tombadouro, Rua 7 de Setembro (depois da independência) e o nome Rua Nossa Senhora Auxiliadora foi dado (segunda metade do século XX) à derivação até à Ponte do Palácio. A Rua de Baixo pode ter surgido, espontaneamente, como caminho preferido por tropeiros e boiadeiros, ao transitar pela localidade na condução de animais. Por essa razão e outras mais, que abordaremos, a Rua de Baixo se tornou referência, ao longo do tempo e, hoje, tem o poder de alterar o trânsito em todo o centro da localidade quando, por algum motivo, é interditada.