Por Nylton Gomes Batista
O Brasil ainda está arrepiado com as brutais cenas produzidas por alguns policiais rodoviários federais, na abordagem de um cidadão que, sem capacete, pilotava moto; nenhum outro indício de que o homem seria pessoa perigosa, criminosa ou que tivesse contra si denúncia ou mandado judicial. Cometia, sim, infração, prevista no Código de Trânsito Brasileiro – CTB. Se não bastasse a estúpida violência e gritos de palavrões contra o abordado, já de mãos na cabeça, ele teve pés e mãos amarrados, antes de ser lançado no camburão e ali receber o golpe de misericórdia: uma bomba de gás lacrimogênio, que o matou asfixiado!
Custa-se crer que toda aquela barbaridade tenha sido cometida por homens, ditos preparados para lidar com situações extremas, proporcionadas por ações de bandidos. Tem-se a impressão de que aquelas eram pessoas arrebanhadas entre gangues de rua, a fim de serem empregadas naquilo que foi feito, diante de dezenas de testemunhas presenciais e mais um número incontável de outras que viram pela web. Sabe-se que, antigamente, policiais eram escolhidos com base em sua truculência, sua força bruta, mas isso é passado. Hoje, são escolhidos por sua inteligência, perspicácia e habilidade no trato de situações variadas.
É claro que, no meio de uma corporação treinada pode haver exceções e o lamentável episódio pode ser o resultado de uma dessas lamentáveis exceções.
Nada justifica o comportamento daqueles ditos policiais rodoviários federais, ainda que todo seu batalhão tivesse sido dizimado entre bandidos, em lugar dos dois que foram, anteriormente, covardemente assassinados. Qualquer pessoa sabe que, indefeso e preso em compartimento restrito cheio de fumaça, um indivíduo pode morrer em poucos minutos. Portanto, o que houve ali foi assassinato! Policiais devem estar preparados para lidar com bandidos da pior espécie, mas, antes de tudo, devem saber lidar com a parte sã da sociedade que, apesar de silenciosa, é muito maior em número. A bandidagem parece maior, em número, devido ao barulho e ao “marketing”, que faz!
Contudo, detalhe importantíssimo, pouco observado, parece, e que ninguém comentou, é que houve oportunidade de se impedir a ação extrema. Havia dezenas de pessoas, muitas delas conheciam a vítima e algumas filmavam a cena que, entre o início abordagem e o lançamento da vítima no compartimento traseiro da viatura policial, não foi tão rápida. Por que ninguém se aproximou de um daqueles policiais e o informou sobre a saúde mental do rapaz? Entre os que filmavam, um dizia que o rapaz tinha problemas mentais e que isso devia ser informado; por que ele mesmo não informou? Assim como nas manifestações de rua, alguém poderia ter puxado palavras de ordem, chamando a atenção dos policiais para as condições mentais do abordado! – “Ah! Isso seria um risco, pois os policiais poderiam se virar contra quem interviesse!” – Risco? Viver já é um risco, ora essa! Será que a vida de um semelhante, de um inocente, não vale esse risco? Faltou solidariedade! Faltou coragem! E sobrou curiosidade! Essa é a verdade, além da barbaridade dos policiais rodoviários federais.
Algumas testemunhas deverão ser chamadas a depor e gostaria de assistir a esses depoimentos. Antecipo aqui algumas das possíveis respostas: – “Não doutor, eu estava muito longe e não pude ver direito”; – “sim, eu conhecia a vítima, mas não sabia que era doente”: “Eu passei, na hora, mas não parei. Por isso não sei dizer nada”; – “Eu estive no local, sim, mas na hora do acontecido, eu já tinha saído”.
Todo mundo vê, dá palpite, julga, condena, fora do cercado! Na hora do “vamo vê”, dentro do cercado, todo mundo cai fora. Cambada de frouxos!