Por Nylton Gomes Batista
Pergunta-se até onde ela, a tecnologia, irá nessa pressa alucinante, revirando conceitos, reinventando métodos, transformando hábitos, revolucionado costumes, enquanto ela própria se reinventa na apresentação de novidades avançadas, alguma inimagináveis por alguém, até há pouco tempo, à exceção de autores de ficção científica. Ouso responder que ela vai até onde for a vida humana, enquanto dotada, a espécie, de inteligência transformadora! A coisa não tem fim! Assim como a vida, a evolução tecnológica continua!
Veja-se a internet, por exemplo. Assim que saiu dos laboratórios militares norte-americanos, a internet era um “embrião” a se desenvolver, mas era um prodígio e já impactava pelas oportunidades vislumbradas. No momento, fala-se da entrada em cena da web 3.0, sequência da web 2.0, da qual estamos a sair, depois de passarmos pela web 1.0, pouco conhecida da maioria dos usuários atuais.
Há pouco mais de vinte anos, quando os primeiros e poucos, PCs, nesta região (incluindo-se este usuário) se conectaram, a fase ainda era a 1.0. Além das limitações próprias da rede em início, sofria-se com a falta de estrutura local, ou seja, não havia provedor, o que levava os pioneiros à conexão discada (por telefone), via Belo Horizonte, onde estava o provedor mais próximo. Se não quisesse ter fatura telefônica a corroer o orçamento mensal, havia que se contentar com “logins” depois das vinte e duas horas e varar as madrugadas ou queimar o lazer dos fins de semana. Usando os sábados e domingos com discagem pelo preço mínimo, o custo era menos ameaçador. Multiplicaram-se os provedores, veio a banda larga, acompanhada da fibra óptica, tornando a web 1.0 um ponto distante no passado, como se há um século.
Tudo mudou, até o termo que designa uma pessoa em atividade na rede. O internauta tornou-se usuário, pois de simples curioso, que pulava de site em site, gradativamente ele se torna trabalhador, no exercício de atividades como pesquisador, professor, aluno, vendedor, comprador, visitante online, viajante online e muito mais. Fala-se que na web 3.0, usuário da rede estará mais protegido, seus dados não mais estarão à mercê de inescrupulosos. Segundo se informa, a vida do usuário será facilitada em suas pesquisas, uma vez que, em rede, o computador poderá queimar etapas, antecipando-se ao buscador. O computador procederá de acordo com seu comportamento online e os conteúdos serão dispostos de forma mais personalizada para cada usuário, sites e aplicações inteligentes. Propriedades digitais, únicas e personalizadas, serão o destaque depois das moedas criptográficas, no anunciado mundo do Metaverso. Embora os usuários ainda conheçam o Facebook com esse nome, na verdade, ele já foi trocado para Meta, de Metaverso.
É uma grande reviravolta que vem por aí e, dela, o grande público nem se dá conta! É meio esquisito, mas, de certa forma, o “mundo da lua”, referência à condição de vida imaginativa, fora da realidade, já existe; não na imaginação, porém na virtualidade! Até inteligência artificial entra na história, quando se trata de criar! Talento humano continua a ser importante, mas cuidado para que à cabeça da máquina não suba uma espécie de orgulho robótico!
Todo esse papo de tecnologia, até aqui, é para mostrar o contraste gritante com relação ao uso do idioma, no exercício da comunicação por profissionais que deveriam zelar pela Língua Portuguesa. A palavra “óculos” ganhou espaço, na mídia, com anúncios de todos os tipos. “Meu óculos pra cá”, “meu óculos pra lá”, “este óculos custa tanto”, “aquele óculos é mais bonito”, e por aí vai. Gente, “óculos” é palavra no plural, exigindo, pois, toda a concordância no plural. Admitem-se erros como esse entre pessoas que não foram muito além do básico, mas entre jornalistas, publicitários e profissionais afins, isso é o fim da picada!
Consultem dicionários. Dicionário não é para “burros”, mas, sim, para sensatos. Se quiserem usar o singular, empreguem, então, “par de óculos”, conjunto formado pelo óculo esquerdo e o óculo direito.
O assunto seria para sala de aula, mas, no caso, a gota d’água que faltava caiu, quando vi anúncio de “um binóculos”. A inversão de valores, presente no campo moral, chega também à área da comunicação! A palavra “binóculo”, ao contrário de “óculos”, é singular porque o prefixo “bi” a transforma num conjunto.
Enquanto digitava este texto, percebi que a coisa é mais séria do que se pensa. Quem usa computador para produzir textos sabe que o editor Word assinala erros ortográficos e gramaticais; não todos, mas os mais graves. Pois bem, repeti os erros para demonstrar e o Word não assinalou nenhum deles; debaixo daqueles exemplos não apareceu a minhoquinha vermelha! Tá danado!