Boa parte do mês de junho, no Brasil, foi marcada por uma caçada, que seria triste e criminosa, se voltada para qualquer animal com fins de aprisioná-lo ou abatê-lo, mas foi infinitamente mais triste por se tratar de um ser humano, porém necessária por se tratar de um criminoso, que devia contas à Justiça. Lamentavelmente, a empreitada não teve o fim que se esperava, mas não é do resultado que vamos tratar, pois somente os que vivenciaram a “aventura” sabem o que é enfrentar o perigo, sob pressões de todos os tipos, incluindo-se a angústia e o medo da população residente na zona do perigo.
Vamos considerar o caso sob dois aspectos e emitir opinião, sem nenhuma pretensão de prevalência sobre qualquer outra, mesmo porque se sabe haver profissionais com conhecimentos e larga experiência, que podem dizer muito mais que um leigo sobre o assunto.
Com base em diversos crimes praticados, incluindo-se um quádruplo assassinato no Distrito Federal, a mídia classificou o criminoso “serial killer” que, em bom Português quer dizer “assassino em série”, mas já adotada a expressão inglesa por idiomas diversos, o que agrada em cheio o gosto tupiniquim por destroncar a língua com vocábulos alienígenas. No caso do Lázaro, a adoção da expressão parece confirmar essa estranha obsessão brasileira por palavras do idioma inglês, misturadas ao Português, porque, na verdade, nada há em sua vida criminosa que configure assassinatos em série. Assassinatos em série ou “serial killer” (tão consagrada que nem o computador a sublinha com a minhoquinha vermelha, destinada a palavras desconhecidas) são caracterizados por uma sucessão de homicídios, que se assemelham por alguns detalhes; podem ter pontos predeterminados na linha do tempo, o que muitas vezes possibilita à polícia saber quando vão ocorrer os crimes; muitas vezes, também, o criminoso se dá ao atrevimento de avisar à polícia como e onde será executado o crime seguinte; geralmente, as vítimas são escolhidas de acordo com perfil predeterminado. Os crimes se estendem por longo período, durante o qual equipe de policiais dos mais competentes se desdobra nos estudos dos fatos, para identificar e prender o criminoso. Por aí se vê que o “serial killer” é pessoa de inteligência acima da média, o que não é o caso do Lázaro, que demonstrou, sim, ser bom e habilidoso mateiro, mas cometeu todos os crimes a descoberto, nada de mistério e sem sequência. Por que então “serial killer”? Além da habilidade em sobreviver no mato, o que mais o ajudou a fugir e se esconder por vinte dias, foi o fato de a polícia não estar preparada para esse tipo de caçada. A polícia está treinada para pegar bandido no asfalto, onde ele circula, não na selva!
O segundo aspecto a se considerar é a posição dele, vista por alguns em relação à sociedade. De acordo com o pensamento dessa corrente, o Lázaro já seria quase um santo, pois seria vítima da sociedade, que não lhe teria reconhecido a dignidade de um ser humano. Era um coitadinho ao qual teria sido negado espaço na sociedade! Mas, o engraçado é que ele fez vítimas inocentes e ninguém se preocupou em defende-las, ainda que em suas memórias, também como seres humanos! Verdade que todos somos algo do que é a sociedade como um todo, mas, em razão do livre arbítrio, ninguém está obrigado a ser ou fazer o que vê ou o que ouve. Todos são livres para escolher entre o certo e o errado, ficando de fora apenas os portadores de desajustes psicossociais, incapazes do discernimento; e era isso que se necessitava saber quanto ao Lázaro.
Os que debitam todas as desgraças e tragédias à sociedade fingem não fazer parte dela! É o cúmulo da hipocrisia! Mas, o mais curioso é que a sociedade somente é culpada quando a vida do indivíduo “dá errado”, porque quando “dá certo”, ainda que para o mal, como a corrupção, por exemplo, é porque o cara é inteligente, tem méritos próprios, soube batalhar para alcançar o que é, o que fez e o que tem. Ninguém se lembra da participação da sociedade, mínima que seja, porque ninguém é ou faz nada sozinho!