Quem me segue por estas linhas que, no O LIBERAL, se escrevem há trinta e dois anos, sabe que não dou guarida a facções políticas de qualquer cor ou natureza, por defender o exercício de uma política livre, na qual o político é senhor das suas ideias, sem ter que estar atrelado a grupos ou partidos, porém sempre leal ao povo ao qual deve servir. Se o político é livre e responde diretamente ao povo que o elege, o povo, por sua vez também não se divide em grupos ou partidos, ficando livre para seguir a quem queira, elegê-lo e destitui-lo, caso a atuação não corresponda ao dele esperado. De maneira simples, seria este o princípio da democracia aberta, sistema menos vulnerável à corrupção.
Entretanto, se o sistema não é esse, mas o corrupto, dentro do qual partidos e políticos fazem o que querem, para si e entre si, há que aceitar governos dele nascidos por via das urnas; e assim tem sido, com raras exceções resolvidas por processos legais, desde há algum tempo. Se não dou guarida a facções políticas, isso não significa que devo me omitir diante de injustiças que, eventualmente, alguma facção venha a sofrer, é disso que se trata agora.
A governabilidade se assentava em duas bases: a Constituição e o “sistema”. A Constituição, todos sabem, é a Lei Maior, a base legal do estado, do país. Quanto ao “sistema” é uma coisa esdrúxula, meio marginal ou quase corpo paralelo do estado. O governante, se quiser surfar na onda política, sem maiores problemas, cumprindo o mandato do princípio ao fim, tem que ter um pé assentado no quadrado da Constituição e outro assentado no quadrado do “sistema”.
Pode até, às vezes, retirar o pé da Constituição, sem que lhe aconteça qualquer revés político, mas, ai dele se retira o pé do quadrado do “sistema”! Basta uma insinuação de retirada, para que a espada de Dâmocles balance acima de sua cabeça! Isso vinha funcionando, até que tomou posse o atual presidente, de pés juntos dentro do quadrado da Constituição, ignorando completamente o quadrado do “sistema”! Está aí o resultado; todo o “sistema” reage contra ele! Não importa o quão alinhado ele possa estar com a Constituição; estão sempre em busca de algo para incriminá-lo e como não encontram, inventam.
A inversão de valores, muitas vezes manifestada de forma sutil na sociedade, no presente quadro político se apresenta de forma escrachada: manifestações violentas, com depredações, incêndios de monumentos, queima de pneus em vias públicas são tidas como “atos democrático”; manifestações pacíficas e ordeiras, como a do Dia da Independência, são vistas, antes e durante, como suspeitas de fundamento golpista. Coisa inédita, nunca acontecida em qualquer situação política é que o “sistema” não tem perdoado nem os simpatizantes do governo, eleitores, seguidores ou apoiadores do presidente, por qualquer crítica endereçada à oposição, notadamente a ministros do STF que se comportam estranhamente à sua função; podem ter bloqueadas suas vias de expressão ou mesmo ser presas.
A perseguição tem sido sistemática, incluindo-se impedimento a que profissionais recebam do Youtube por vídeos veiculados naquela plataforma. Pau que dá em Chico deveria dar em Francisco também; mas não neste caso, pois ele dá em Chico, outra vez, novamente e sempre! Do outro lado pode vir tudo contra o governo e, especialmente, contra o presidente; toda sorte de mentiras e armações, incluindo-se tentativa de impedimento de sua fala na ONU, tendo como argumento o fato de não ser vacinado contra a COVID-19. Há canal no Youtube que cola nele, diariamente, todos os qualificativos e mais alguns extras, que seriam do ex-presidiário, que pretende voltar como presidente da República; segundo esse mesmo canal o governo federal é formado por uma quadrilha. Quando era mesmo, ninguém nunca falou!
Nenhuma crítica se admite contra as forças da oposição, mas contra o presidente, seu governo, seus seguidores e apoiadores pode-se tudo! Curiosamente, o presidente “ditador”, de perfil “totalitário”, “fascista”, “genocida”, nunca moveu ou fez mover a lei contra os que o ofendem ou injuriam.
Essa a coisa que, no Brasil, chamada democracia, uma das partes, não reconhecendo haver perdido nas urnas, se vale do “sistema” para tumultuar, perseguir, mentir, acusar injuriar e inverter fatos mediante suas próprias narrativas, na tentativa de derrubar o governo, legalmente eleito.