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Ponto de Vista do Batista
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Estamos todos no mesmo barco XXXVIII

De fato, parece que, no caso da COVID-19, o diabo foi pintado mais feio do que é na realidade, mas, isso não significa que ele não existe e que não é perigoso. Ele está aí, pronto para fazer vítimas, não se preocupando com a categoria em que possam se enquadrar, homem, mulher, rico, pobre, feio, bonito, poderoso, miserável, santo ou bandido. Presume-se que tenha preferência por velhos e, com mais probabilidade, os acometidos de alguma fragilidade orgânica, mas nada impede que a escolha recaia em jovem e outros, aparentemente, saudáveis. Na verdade, ninguém sabe se está a salvo! Resguardar-se é o melhor remédio. Transcorrido quase um ano de pandemia, constatam-se ainda, na população, dois comportamentos antagônicos: numa extremidade, o exagero da autoclausura, da solidão, alguns evitando até a fala ao telefone; comportamento que pode levar a outras debilidades na saúde. Noutra extremidade, o bloco “num tô nem aí”, que não se importa de ser, ou não, agente de disseminação da doença. Depois de breve estabilização e queda no número de casos, eis, novamente, os hospitais com sua lotação no limite. Em Ouro Preto, onde o número de contaminados deu um salto, acredita-se que se sua causa esteja nas festas e noitadas nas repúblicas estudantis. Claro, nem todos morrem, mas o transtorno social é muito grande para ser desprezado. O maior problema da pandemia, além de possível morte, está no esgotamento da capacidade dos serviços de saúde, gerando falta de atendimento às outras doenças de mais difícil prevenção. Isso é que todos devemos considerar. Faltam cuidados, de um lado, e fiscalização, do outro!
Ao falar da pandemia, lembra-se das consequentes mortes; e morte leva-me a outro assunto. Não seria para este espaço; sim, para sala de aula, mas é tão abrangente que não resisti, mesmo por que acabei sendo vítima da mediocridade que impera neste país grande, bobo e irresponsável. Pelo WhatsApp, alguém que ouvira o sino me perguntou quem teria morrido. Respondi que duas pessoas haviam morrido, mas não sabia por qual delas o sino fora tocado. Alguns minutos depois, a mesma pessoa fez novo contato, dizendo que a minha informação fora motivo de risos e chacotas por parte de outras pessoas. Dizia-se que o sino não fora tocado por nem uma, nem outra pessoa, porque os mortos não tocam sino.
Se tais pessoas riram, eu mais ainda! Ó santa “ingnorança”, dai-me forças e paciência para lidar com tanta mediocridade! É o preço a pagar por ter nascido e viver num país em que se beija a bola e chuta escola! Ao contrário do riso, deveriam voltar à sala de aula para aprender que a preposição “por” tem muitas funções e, nesse caso específico, o “por” não está a apontar a autoria da ação (tocar o sino) mas, sim, em qual intenção, em memória de quem o sino foi tocado. O sino não é tocado “para” os mortos, porque estes não mais ouvem, pelo menos neste plano; é o que se sabe! É tocado para os vivos, para que estes se informem sobre algo a acontecer ou ainda acontecerá. Se assim fosse, como querem os zombeteiros, também estaria incorreto o título POR QUEM OS SINOS DORAM, famoso filme estrelado pela saudosa Ingrid Bergman. Veja-se o caso da oração. Ninguém reza ou ora (conforme a corrente religiosa) “para” alguém. A pessoa ora ou reza “à” divindade “por” fulano, “por” sicrano ou “por” beltrano. Quem reza ou ora, não por si próprio, mas por terceira pessoa, é uma espécie de “procurador” que, junto à divindade, roga, pede, solicita um benefício em nome de alguém. Também é muito comum ouvir ou mesmo ler algo como “perguntar ‘para’ fulano sobre isso ou aquilo”. Quem quer se informar pergunta “a” alguém e não “para” alguém, a menos que a informação solicitada seja para repasse a terceira pessoa; é preposição com a função de direção. As pessoas que zombaram do emprego do “por” devem também “namorar ‘com’ fulano(a)” ao invés de “namorar fulano(a)”, que é o correto. Em “namorar com” presume-se que haja uma terceira pessoa, o que foge ao sentido do namoro, especialmente hoje, quando se extrapola o “olho no olho” ou o máximo de “mão na mão”. Se há uma terceira pessoa, o “namoro” ganha outro nome!
Desculpe-me, você, se fugi ao comum dos assuntos aqui tratados, para incluir um que tem espaço próprio, a escola; mas se alguns fogem dela e vêm nos azucrinar, à defesa não se deve renunciar! Que o sino continue a tocar por alguém que virou saudade; que se ore ou reze por alguém que da oração precise; que perguntemos a alguém e, se for o caso, passemos a informação para outrem; e que o namoro seja sempre a dois. De volta aos zombeteiros, roguemos: Língua Portuguesa, perdoai-os, porque não sabem o que falam!

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