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Ponto de Vista do Batista
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Estamos todos no mesmo barco XXII

Em meio às informações, obtidas na hora e repassadas ao público, o apresentador de televisão se mostrava agitado e, quase a vociferar, defendia sua opinião com relação a providências, a serem tomadas para dificultar a propagação de eventuais pandemias, no futuro. Dizia ele, mais ou menos, isso: – essas    comunidades deveriam ser extintas, para o bem de todos, pois suas características impedem o distanciamento e o isolamento sociais, tão necessários em momentos como este que vivemos. – Curiosamente, não foi levada nenhuma denúncia contra ele ao Tribunal de Haia! E estaria correta uma denúncia de apologia ao genocídio, pois foi isso que se fez, ainda que o profissional de televisão não quisesse fazê-la.
É no que dá a mania hipócrita tupiniquim de tentar mascarar realidade indesejável, algo que se contrapõe ao melhor imaginado, mediante troca do nome, considerado estigma, como se fosse a causa daquela   realidade. Não tendo conhecimento prévio do verdadeiro significado, qualquer um, ao consultar o dicionário, constata que comunidade é grupo de pessoas interligadas por algo em comum, como residentes no mesmo bairro ou na mesma localidade, na mesma rua, no mesmo condomínio, também formando comunidades as pessoas associadas a uma mesma entidade ou associação. Alunos, professores e funcionários, por exemplo, ligados a uma escola, formam uma comunidade escolar.
Comunidade é gente, sempre formada por gente, não importando aí qualquer diferença entre os indivíduos que a compõem. Comunidade é alma, luz, pura, sempre voltada para o bem!  Favela é corpo malnascido, maltratado, doente e em condições precárias de abrigar a alma em todo sua grandeza!
Logo, apregoar, que comunidades merecem desaparecer ou devem ser extintas, é apologia ao genocídio, sim! Entende-se que o apresentador do programa televisivo quis dizer favela, mas o preconceito criado em torno daquela palavra, somado à hipocrisia da sociedade, leva a grande mídia a se referir aos amontoados de toscas construções por denominação diferente da original e tradicional, favela. Como grave problema social, escamoteado e jogado para debaixo do tapete pelo sistema político vigente, as favelas saltam aos olhos da sociedade como chagas purulentas num corpo. Merecem, não extinção ou extirpação, mas transformação, mediante políticas de valorização humana, para que em situações de risco como a atual, todos tenham as condições de defesa, como o distanciamento e o isolamento social, além, é claro, de todos os direitos inerentes à cidadania. Contudo, cabe primeiro ao Estado de direito derrubar o estado bandido, instalado em quase todas favelas das grandes cidades brasileiras, libertando, assim, as comunidades do jugo opressor do crime organizado.
É a triste realidade à qual chegaram as favelas ao longo do tempo, sem a presença do Estado e seus serviços. As populações faveladas, além da precariedade material nos modos e meios de ter um endereço fixo, resvalando-se para condições sub-humanas, e do abandono a que são condenadas pelo poder público, estão de joelhos diante do poder do crime organizado. Este, por sua vez, lhes dita tudo o que quer para consolidar sua posição criminosa, em troca de pouco do que têm direito junto ao Estado de direito. Regime de medo em ambiente de violência é parte da lei bandida, à qual estão sujeitas as populações de muitas das favelas!
Para pôr fim a essa situação, primeiro há que se ter coragem política; seguida de determinação firme no desmantelamento de todo poder paralelo, estabelecido por criminosos para controle dos cidadãos residentes naqueles espaços e, ao mesmo tempo, debate, estudos e planejamento de ações de humanização de todas as favelas, num esforço conjugado entre Estado e sociedade. Queira Deus que a sensibilidade toque a todos para que, ao final da guerra contra o novo coronavírus, haja paz para remodelação física e moral das favelas!

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