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Ponto de Vista do Batista
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Estamos todos no mesmo barco XXIX

O garoto (aqui não interessam nomes, mas, sim, os fatos) que, em alguma parte do Brasil, trabalhou, de forma eventual como engraxate, para comprar um relógio, a ser dado como presente, está a fazer história. O presente seria para seu “pai”, na verdade tio, no Dia dos Pais. Extremamente pobre, não tendo a família colchões onde dormir, nem fogão próprio, falta esta compensada pela vizinha que permitia acesso ao seu, na hora de preparar a comida, o menino de apenas 10 anos fez balançar corações. Ele tinha sonhos para si próprio, entre esses um videogame, mais tarde revelado, mas preferiu homenagear o “tio-pai” que, naturalmente, corresponde ao seu amor de “sobrinho-filho”.
Aquele gesto destoante do de tantos filhos, bem aquinhoados, mas que pensam ser pouco o recebido dos pais, rende-lhe e sobre a sua família as atenções de uma rede amorosa e solidária que, por certo, tornará aquelas vidas menos sofridas. Do outro lado, entretanto, ficou o benfeitor primário, joalheiro que, tendo sobre si a atenção de indivíduo, homem ou mulher, espírito-de-porco, fofoqueiro, mal amado e invejoso, acabou sendo denunciado ao Ministério Público do Trabalho e, por este, obrigado a assinar um Termo de Ajuste de Conduta que, praticamente, o impede de falar sobre o caso, sob pena de multa.
Que a lei impede o trabalho infantil é bem sabido, assim como se sabe, também, que a criança deve estar voltada para os estudos, a educação, tudo em equilíbrio com atividades lúdicas e brinquedos próprios da idade. No caso em apreço, o próprio garoto revelou tratar-se de iniciativa própria, ninguém o induzira ao trabalho, pois queria presentear o “pai” mediante esforço próprio; havia pouco tempo, cerca de dois meses, que amealhava alguns trocados nas horas vagas, depois da escola. O comerciante, por sua vez, não considerou o trabalho do menino, porém o gesto de amor para com o pai, exemplo para muitos filhos que, longe de obedecer e respeitar seus pais, causam-lhes dissabores.
Não ao trabalho imperativo e compulsório na infância! Mas se parte da iniciativa da própria criança, que eventuais elogios e apoios não sejam motivos de punição a quem quer que seja! A ingerência de terceiros, mediante denúncia apresentada ao Ministério Público do Trabalho, foi o grande dragão, no contos de fadas, que teve início com o gesto amoroso do próprio garoto. Por que em lugar da denúncia, o ou a denunciante não procurou conhecer a criança, sua família e as condições em que vivia? O Ministério Público, por sua vez, tinha que atuar, desde que recebida a denúncia. Mas, precisava ser mediante a humilhação de um documento assinado pelo comerciante? Constatada a idoneidade do joalheiro e sua boa-fé na homenagem à criança, bastante teria sido uma conversa, na qual seria alertado sobre as implicâncias legais com relação ao seu gesto. A autoridade teria cumprido seu dever e o comerciante não teria sido “violentado”, em sua dignidade, por ter homenageado o garoto!
Também eu, aos doze anos cheguei a trabalhar, assim como meus irmãos, enquanto a mamãe, acometida de esquizofrenia, esteve internada por dois anos. Nenhum de nós foi prejudicado na frequência à escola, nenhum se revoltou e nenhum se tornou bandido. Pior teria sido se tivéssemos enveredado para a vadiagem, para o vício e para o crime! Eu não continuei no trabalho, porque me foi dada a oportunidade de prosseguir nos estudos, pelo menos, até o equivalente ao segundo grau de hoje, o que naquela época era impensável por e para um pobre! Assim como trabalhamos, nenhum de nós foi poupado dos corretivos físicos paterno-maternos e nem por isso nos tornamos cidadãos traumatizados. Nenhum de nós considera como maus tratos as punições, eventualmente recebidas, por ocasião da desobediência às normas estabelecidas.
Pior mal nos faz o “amigo” falso, a deslealdade, a mentira deslavada, a fofoca, a injúria premeditada e a perseguição por pensar diferente, entre outras maldades humanas, quando nos querem fora do caminho!

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