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Ponto de Vista do Batista
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Estamos todos no mesmo barco XXXIII

Interrompamos, nesta edição, as considerações relativas aos conceitos em torno de “município” e “distrito”, pois assim como esse tema não pode ser desprezado, mesmo dentro da situação de pandemia, outro tem sua oportunidade própria para abordagem, reforçada ainda pelas injunções advindas da mesma crise sanitária. Aproxima-se o Dia de Finados, ocasião em que a civilização cristã lembra e reverencia os mortos com orações, visitas aos túmulos, aposição de flores, etc. Neste ano, tudo isso está limitado por protocolos sanitários.
Embora a religião pregue que a morte não é o fim da vida, porém uma transição para outro estágio da mesma, o fato é que, na prática, ela é tratada como ponto final, após o qual persiste um vazio misterioso, o desconhecido e temido pelo comum dos mortais. Há uma grande incoerência entre o ensinado/aprendido e o vivido, no dia-a-dia da grande maioria. Aprende-se que o corpo é apenas matéria e como tal deve ser tratado após a morte/transição, mas o que se pratica é o culto a ele, desde os primeiros momentos antes do sepultamento até quando nada mais resta dele debaixo da terra. Gasta-se muito dinheiro com ele e com ele muitos ganham dinheiro!
Felizmente, o “espetáculo” dantesco, em volta do leito de morte, desapareceu; moribundo cercado por familiares a soluçar, causando aflição em lugar do conforto, que o doente necessita, não mais se vê. Também o luto, expresso na roupa preta e no recolhimento compulsório, o que, não raras vezes, era uma tremenda hipocrisia, deixou de existir! Persiste o tétrico a inspirar histórias de horror, que alimentam o medo irracional da morte. Contudo, já foi pior.
Lembro-me de, na infância, último domingo de cada mês, nas missas do Oratório Festivo D. Bosco, praticar o chamado “exercício da boa morte”. Meu Deus! Que ofício mais lúgubre, terrificante, do qual estaria bem longe, se liberdade me fosse dada de escolha. Quero crer que não tenha sido Dom Bosco seu autor! Pelo que sei, ainda se pratica entre os salesianos, mas tomara que o tenham amenizado! Como se vê, o medo da morte é, na verdade, medo do desconhecido; Por, presumivelmente, ninguém ter voltado para dizer como é a coisa do lado de lá. Mas, isso está para mudar e já muda, assim como tudo na vida e, agora, também na morte!
Inúmeras são as pessoas que já passaram pela EQM (Experiência de Quase Morte), fenômeno que tem o valor de uma rápida, “lambida” num doce extremamente saboroso, de acordo com os relatos. A quem queira conhecer tais relatos, basta buscar por EQM no Youtube. São vários canais dedicados e também relatos avulsos de tais experiências. Pelo menos um canal é voltado para pesquisa científica em torno do tema, dentro de uma rede em todo o mundo. São pessoas de variados níveis de formação, do alfabetizado ao cientista, religiões diversas e ateus, cujas experiências podem variar no cenário onde estiveram, porém não nas impressões sentidas e nos efeitos pós EQM. O “local” visitado tem um limite de onde, se ultrapassado, não há retorno; todos descrevem uma paz imensa, um amor incomensurável e um sentimento de integração ou pertencimento a todo o universo. Quem ali chega não quer voltar, só se decidindo pela volta, quando se lembra ou é lembrado de que ainda tem algo a fazer no plano físico. Finda a experiência e de volta às atividades humanas, todos passam a encarar a vida de outra forma, maximizando sempre o lado espiritual e o valor do ser humano. A mente dessas pessoas se amplia.
O fenômeno não é novo. Embora os relatos sejam atuais, muitas EQMs são antigas, de trinta ou quarenta anos passados. Muitos guardaram as experiências para si, até o momento; outras tentaram compartilhar com pessoa mais próxima, no círculo familiar, mas não foram acreditadas e, por isso, silenciadas.
Na história da humanidade, quantos podem ter acabado em manicômios, suspeitos de loucura? Por isso, os mais sensatos silenciaram. Novos tempos, novas tecnologias, mentes mais aberta e manicômios fechados permitem, aos privilegiados de agora, o compartilhamento, sem medo, de suas “lambidas” no doce saboroso do além! Com muita razão, talvez tenha sido um privilegiado o autor da expressão “passar desta para melhor”, depois de visitar a antessala da outra vida e sentir um pouco do muito bom que é.
Ao se lembrar e homenagear seus entes queridos ausentes, neste 2 de novembro, tenha em mente que eles são vivos, num outro estágio da vida. Mortos, talvez estejamos nós!

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