Riqueza e pobreza, dois conceitos, dois polos, duas faces de uma mesma situação. Ironicamente, podem ser como faces de uma mesma moeda; uma a desconhecer a outra, mas, ao contrário da moeda que não se afeta com isso e continua a existir, na representação da riqueza, as duas faces sociais entram em conflito se se ignoram, mutuamente, embora sejam interdependentes.
Por muito que teorias políticas tentem anulá-las mediante a igualização, a existência dessas duas faces é inerente à condição humana, o que não quer dizer que a distância entre e um e outro ponto deva ser expandida ao infinito, pois a razoabilidade pede menor distância possível, para se manter o equilíbrio entre ambos. Da riqueza pode nascer o fomento ao crescimento, ao desenvolvimento que, por sua vez, necessita dos menos ricos e mais pobres, que buscam mais riqueza por meio de sua força de trabalho com o qual se atinge a prosperidade. Entretanto, o comportamento, individual e de grupos, em relação à questão, nem sempre é favorável ao equilíbrio, pois os opostos se digladiam a ponto de comprometer avanços em direção a melhor qualidade de vida para todos. Surgem, então, conceitos tendentes a menosprezar, ridicularizar ou usar a face oposta para fins políticos desejados.
É assim que o dinheiro, considerado o mais perfeito bem econômico, que Deus inspirou ao Homem criar, passa a ser invenção do diabo; que muito dinheiro traz infelicidade e, por isso, é melhor continuar pobre; que é mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha que um rico entrar no reino do céu – note-se que, além da injusta generalização do conceito, a tradução foi capenga, pois “camelo”, no original, significava um nó especial e não o animal típico do deserto. Alicerçada nesses conceitos, vem em seguida a equivocada doutrina da “preferência pelos pobres”, em lugar da preferência pelos bons, pelos justos, independentemente do ter e haver material de cada um. Infere-se daí que para ser santo há que ser pobre, ou, que todo pobre é santo; conclusão tão falsa como o é uma cédula de três reais. Pobreza não é virtude e riqueza não é crime ou pecado! O que merece condenação é o mau uso, pelo rico e pelo pobre, de sua respectiva condição social. Por outro lado, felicidade e infelicidade não têm nada a ver com o ter e haver! Têm, sim com o ser e estar; tem, sim, com ser limpo de ideias maléficas contra o que e quem quer que seja; tem, sim, com a consciência tranquila, livre de sentimentos como remorsos, mágoa, raiva e ódio. Com todo o dinheiro do mundo ou na miséria absoluta, o indivíduo pode ser feliz!
Nos últimos anos, início da escalada da violência e dos crimes contra o patrimônio, foi moda debitar a causa à miséria e ao desemprego. Políticos e a mídia batiam na mesma tecla, segundo a qual o desemprego e a miséria levavam pessoas ao crime que, à época, assim como hoje, eram assaltos a mão armada em residências, assaltos a bancos, assaltos a veículos de carga, em rodovias, entre outros. Defensores de tal teoria nem se preocupavam com a incoerência entre a pressuposta condição famélica dos criminosos e o modus operandi, acrescido do emprego de armas pesadas e caras. Se eram miseráveis desempregados, como ter e empunhar armas, até do tipo bélico, em operações tão ousadas? O que se sabe é que quem passa fome, eventualmente, rouba comida; não era o caso! Na verdade eram gangues organizadas, das quais participavam gente de todo tipo (estudantes universitários, indivíduos com título universitário, comerciantes e até policiais) menos famintos e trabalhadores desempregados. Trabalhador, o verdadeiro trabalhador, desempregado se vira com o que sabe fazer, mas não rouba!
Se assim foi em relação à violência, parece que agora a mesma válvula de escape é aplicada no caso do meio ambiente. A coisa passou despercebida, ou deixada de lado de propósito, pois a mídia não destacou declaração feita pelo ministro da Economia. Disse ele que a maior inimiga do meio ambiente é a pobreza, porém não explicou em que sentido. De qualquer forma, foi declaração infeliz, porque só o fato de ser pobre não faz do indivíduo um agressor do meio ambiente. O que leva o indivíduo a agredir e destruir o meio ambiente é a má educação ou a falta dela, e, parte dessa responsabilidade cabe ao Estado. Quanto à poluição dos cursos d’água, talvez o maior dano ao meio ambiente, em decorrência da ação humana, debite-se à falta de um política de Estado voltada para o setor, que afeta não somente os mais pobres, alocados em favelas, mas uma grande população fora delas, que paga IPTU.
Portanto, Sr. Ministro, o maior inimigo do meio ambiente é o próprio Estado, do qual a pobreza é a maior vítima! E tenho dito.