As consideradas anomalias climáticas, como este pequeno inverno no fim do verão que, a rigor, nem houve, têm sido munição para contumazes anunciadores de cataclismos globais, podendo chegar ao fim do mundo, tantas vezes anunciado nos últimos anos. A vertente religiosa, mais antiga e mais sombria, infunde mais horror num maior número de pessoas a partir de pretensas interpretações bíblicas, mas a vertente ambientalista, recentemente surgida, não fica muito atrás em influência mediante manipulação, cujos propósitos não são muito claros. O fato é que, para essas duas correntes, qualquer fenômeno natural mais destacado é sinal comprobatório de suas teorias. Para uns é manifestação da ira divina e para outros é resposta às agressões humanas à natureza que, segundo a opinião radical de alguns, deve permanecer intocável. Nem uma e nem outra corrente reflete a verdade. O planeta não tem que se comportar de acordo com desejos e interesses humanos, devendo, sim, a espécie humana estar adaptada ao seu habitat, sincronizada com a regularidade do clima, porém preparada eventuais arritmias. Não é tudo proibido ao Homem, devendo este estar atento, sim, ao equilíbrio e aos limites.
Se o indivíduo tem suas esquisitices, o planeta também pode ter as suas, ora bolas! Imagine-se uma pessoa tranquila, de bom senso e bem relacionada com todos. Lá um dia, inesperadamente, ela perde as estribeiras e desfere alguns sopapos em alguém. Isso não quer dizer que tenha enlouquecido ou alterado sua personalidade! Passado aquele instante, tudo volta ao normal. A espécie humana abriga em seu íntimo o desejo de busca do conhecimento, que pode ser pelo puro prazer de tê-lo ou, por meio do qual, possa se desenvolver, possa gozar de bem-estar, obter melhor qualidade de vida e outros atrativos para sua vida. Essa busca não tem limites, senão pela ética, que procura preservar o respeito aos valores humanos e sociais, acatados pela maioria. Entretanto, há os que se contrapõem à ideia de a espécie avançar, valendo-se dos recursos naturais proporcionados pelo planeta, ainda que de forma equilibrada, respeitando os limites impostos pela própria natureza. Para essa corrente de pensamento, a espécie humana deveria ficar estacionária, porque qualquer avanço, qualquer tecnologia aplicada, segundo sua concepção, agride a natureza e põe em risco a segurança global. Há limites a serem respeitados, mas sem exageros! Se tudo oferecesse risco, o Homem não teria saído das cavernas. Imagine-se quando se descobriu capaz de produzir fogo. Se presentes àquela época, radicais atuais teriam feito da descoberta um perigo de o mundo ser incendiado!
Infelizmente, ao longo da história, a espécie humana tem produzido excessos, como guerras de extermínio, chegando ao cúmulo de, com o poder de seu conhecimento, destruir duas grandes cidades, sem considerar a inocência de suas populações. Apesar de tudo, o mundo continua! Assim como num único dia e mesmo local, a temperatura pode ter variações extremas, sol forte em determinado momento e, logo em seguida, muita chuva e frio, ao longo dos séculos essas variações podem se arrastar por períodos tão extensos a ponto de afetar gerações inteiras de humanos. Cientistas, em pesquisas recentes, descobriram, por exemplo, que uma dessas variações se deu a partir do ano 536 desta era.
Naquele ano, todo o mundo conhecido e habitado foi envolvido por uma, então, inexplicável semiescuridão. Uma espessa névoa e fina camada de pó fizeram desaparecer o sol, ao ponto de, em pleno verão, a temperatura descer a quatro graus centígrados. De acordo com os estudos, o fenômeno perdurou por mais de cem anos, afetando a qualidade de vida global, uma vez que, não a havendo luz solar, não se produzia vitamina D suficiente, deixando as pessoas mais susceptíveis a doenças; a produção de alimentos caiu a níveis baixíssimos, provocando a fome, pois a agricultura se tornou insustentável e pecuária reduzida, devido também à falta de alimento nos pastos. Por coincidência ou tendo como causa aquele estado de coisas, grassou então a terrível “peste negra”, que chegou a matar cinquenta milhões de pessoas, algo próximo de um quarto da população mundial. Por tudo isso, os mesmo cientistas envolvidos na pesquisas avaliam aquele período como o mais difícil para a vida humana no planeta. Não se pode dizer que aquelas populações viveram, mas sofreram a vida! Também a política sofreu transformações na Europa e na Ásia, devido à maior fragilidade de alguns povos afetados pelas novas condições climáticas. Enquanto esses se moviam em busca de melhores condições de vida, outros em melhor situação ocupavam os espaços deixados. Impérios caíram e, ao mesmo tempo, estabeleceram-se condições para o surgimento de outros. De acordo com os mesmos estudos, sabe-se agora que a névoa, uma fina camada de pó e a dramática variação climática tiveram como causa grandes e sucessivas erupções vulcânicas, longe das regiões então habitadas.
Assim tendo ocorrido, no passado, agora não há nada de assustador no comportamento da natureza!