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Ponto de Vista do Batista
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Estamos todos no mesmo barco V

O primeiro trimestre de 2020 foi ultrapassado e o coronavirus, anunciado no último dia do ano anterior, avança sem trégua no meio da humanidade, tendo atingido mais de cento e oitenta países. Embora não seja a primeira grande pandemia, contra a qual luta a espécie humana, esta pode causar mais efeitos negativos, mesmo que o número de mortes possa ser menor que o provocado por outras. A última das maiores, a gripe espanhola, horrorizou o mundo em 1918 com cerca de cinquenta milhões de mortes. Entretanto, com pouco mais de um milhão de contaminados até o fim da semana passada, esta já causa mais danos que afetarão toda a humanidade, mesmo depois de encerrado o surto. É o impacto direto na economia, bem como na mentalidade da espécie.
Nos casos anteriores, havia pouca mobilidade humana. A grande maioria circulava até poucos quilômetros distante de seu domicílio, muitos viviam até idade avançada sem nunca sair de sua terra natal; a economia ainda era localizada com pouca interação entre os países. A própria comunicação, então, era restrita ao boca-a-boca e imprensa escrita. Em razão de tudo isso, as necessidades humanas ainda eram, praticamente às, hoje, consideradas básicas ou primárias. A propaganda massiva, estendida posteriormente ao rádio, à televisão e, hoje, à internet, ainda não havia criado as inúmeras necessidades secundárias que condicionam a vida humana, por mais simples e pobre que seja. Há cem anos, nem se imaginava a existência de produtos, que hoje são presenças obrigatórias na vida de qualquer pessoa. Ao contrário daquela época, o que acontece num ponto do globo repercute, instantaneamente, no ponto diretamente oposto; o que se consome aqui pode vir de qualquer parte do mundo, assim como o aqui vendido pode ser adquirido, onde quer que esteja o consumidor. Graças às novas tecnologias, aos avanços científicos e à medicina moderna, é possível que o número de mortos fique bem abaixo do produzido pela gripe espanhola, não se podendo esperar o mesmo para a economia que, desde os primeiros dias já sofreu impacto nunca visto fora do tempo de guerra. Possivelmente, o golpe na economia deverá provocar alterações nos hábitos e costumes, nas relações sociais e nas questões de trabalho.
Quanto ao aspecto puramente humano, a pandemia está a levar as pessoas a uma introversão, a uma reflexão sobre os verdadeiros valores a nortear a dignidade humana, devendo isso, decididamente, mudar do TER para o SER o estado mental da humanidade. A solidariedade continuada passa, aos poucos, a ser inerente à condição humana e não mais eventual, de acordo com as circunstâncias. Só não vê quem não quer ver que a vida de toda a espécie, de toda a humanidade, depende da solidariedade, cobrando de cada indivíduo sua quota de sacrifício, para que sobreviva e faça sobreviver seu semelhante.
Destoa, nestes momentos de angústia coletiva, a discussão entre dois grupos, em torno da forma a se manter a população no que toca ao controle da pandemia. É consenso ou posição aceita pela maioria, que opiniões extremadas sobre qualquer assunto não são o melhor caminho para tomadas de decisão. Portanto, não é por meio do isolamento absoluto e paralisia total das atividades, como também não é por meio da liberação geral, que se chegará a um bom termo. Grupos de risco merecem o maior cuidado, para que não se contaminem e não propaguem o vírus, mas que não se descure da segurança daqueles aos quais cabe a responsabilidade pela manutenção das atividades essenciais. As atividades no campo, por exemplo, devem ser mantidas completamente a salvo da contaminação, pois desse setor depende a alimentação de todos, assim como todos dependem dos hospitais, serviços e profissionais da saúde, para que se ponham a salvo da pandemia.
A virtude está no meio e não nos extremos! Há que adotar o equilíbrio nas tomadas de decisão, para que maior não seja o perigo a ameaçar a população. Quem não é dos meios, diretamente envolvidos, no controle da doença e da segurança da população, que se abstenha de se imiscuir, explorar e distorcer fatos, palavras, com propósitos alheios ao problema maior. Questões político-partidárias são tudo o que a sociedade brasileira não quer discutir e, portanto, dispensa nestes momentos. Quem é de governar, que governe; quem é de trabalhar, que trabalhe, quem recebeu instrução para que se isole, que fique isolado, quem é de ficar calado, que assim se mantenha; quem é de comunicar, que comunique, porém o estritamente necessário. Que Deus nos guarde a todos!

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