Para quem já foi para a retaguarda, não mais tem compromissos forçados fora de casa, não curte ociosidade nas ruas e ocupa seu tempo com trabalho, até que a quarentena não faz muita diferença, com exceção daqueles que, por conta dela, passa a ter, ao lado, familiares estressados pela mesma situação. Os da retaguarda formam o maior grupo de risco, mas sob o comportamento já descrito estão mais protegidos que todos os demais.
O velho, aposentado, em casa, pode e deve superar estes momentos, desde que consciente da situação e não influenciado por mal informados. Contudo, mesmo entre eles pode haver aquele que se rebela contra a imposição, reclamando o direito de ir-e-vir à hora e como bem entender. É como aquele que não gosta e não come jiló, mas faltando o legume no mercado, brada aos céus pela oferta do jiló! Coisas da natureza humana! Para os forçados a se afastar do trabalho e ficar em casa a coisa é diferente. Não é fácil para ninguém deixar de trabalhar, por circunstâncias adversas à sua vontade, ficar retido dentro de casa e, para completar o quadro negativo, ter o orçamento doméstico comprometido por redução da renda. É necessário muito equilíbrio psicológico, nesses momentos, para suportar razoavelmente a situação e não influenciar, negativamente, demais membros do grupo familiar. O mais recomendável é que a pessoa se mantenha ocupada, se não com afazeres domésticos, atividades físicas, que leia, escreva ou se ocupe com algo como resolução de palavras cruzadas. Em forma passiva, o melhor é ouvir boa música. O menos recomendável é ver televisão, especialmente o noticiário. Embora se sinta agredido no direito de se movimentar, quem fica em casa pode se considerar um privilegiado, em comparação com aquele que continua a sair para o trabalho e, em razão disso, está mais exposto ao perigo, no transporte coletivo e toda vez que, em razão do trabalho, tem mais proximidade com outras pessoas. A pessoa com a qual se mantém contato pode estar contaminada e nem saber, mas a transmissão da doença pode se fazer, naquele momento de proximidade sem os devidos cuidados, de ambas as partes, como o toque de mãos e o não uso de máscara, por exemplo.
Uns podem se contagiar e escapar da doença, mas a transmitem a outros, que a desenvolvem com muita facilidade. No topo da ocasião de contágio estão profissionais da saúde, dos quais a circunstância exige o máximo, em trabalho de risco e nem sempre estão protegidos na mesma proporção. Cabe a eles o maior sacrifício, em trabalho e em nível de risco para si e para suas famílias que, mesmo isoladas em casa, podem ser contaminadas por médicos(as), enfermeiros(as) e outros, ao retorno do trabalho para casa. Como forma de diminuir esses riscos, muitos se hospedam longe de seus domicílios, gerando dissociação física do grupo familiar e consequente angústia; mais sofrimento agregado!
Ainda longe de ser plenamente dominada, a pandemia ainda poderá causar muito sofrimento, além da saúde e das perdas em vidas, em decorrência da drástica redução nas atividades econômicas, imposta pelo necessário distanciamento social. Milhões de pessoas, em todo o mundo, se juntam à parcela anteriormente já desempregada; milhares de pequenas empresas se fecham; negócios se reduzem. Governos são forçados ao gasto de seus recursos para minimizar o impacto social, que implica na simples sustentação alimentar de grandes parcelas da população, desvinculadas da cadeia produtiva regular.
Configura-se, para depois da pandemia, um novo mundo, no qual pouco restará da economia anterior à mesma e, paralelamente, poderão ser resgatados antigos valores humanos, desaparecidos por força da pressa e do foco no TER.
Lamentável é que, no Brasil, enquanto a população sofre, de todas as formas, os efeitos do coronavirus, a política continua presa às antigas práticas dissociadas do coletivo nacional e voltadas à disputa partidária e interesses correlatos. Permita Deus que entre as transformações que o mundo aguarda para o pós-pandemia, ainda que mais à frente, esteja o banimento de todos os partidos políticos, permitindo assim a instauração da DEMOCRACIA ABERTA.