A pandemia do COVID-19 avança, debalde todos esforços para contê-lo, em todo o planeta, com exceção da China onde teve seu início e, estranhamente, foi debelada com relativa rapidez. Mais de quatro milhões já foram contaminados e cerca de duzentos e oitenta mil encontraram nela a morte. O novo coronavirus, causador da pandemia, não escolhe vítimas pela conta bancária ou posição social, não quer saber se é homem ou mulher, se bonito(a) ou feio(a), gordo(a) ou magro(a); não dá bolas para religião do(a) escolhido(a) ou se a tem ou não; também não importa o partido político, a ideologia, a etnia, a cultura, o que lhe permite deitar primeiro ministro e até príncipe. Tem certa preferência por portadores de alto DNA (data de nascimento antiga), mas não enjeita nem bebê, se oportunidade há. Enfim, pega qualquer um(a)! Basta ser da espécie humana!
No Brasil, o coronavirus entrou via passaporte de privilegiados, viajantes de avião que cruzam fronteiras continentais. Portanto, as circunstâncias lhe favoreceram a escolha de espécimes brasileiros com algum poder aquisitivo que, na ocasião, circulavam pela Europa, onde a pandemia já se espalhava. Mas, em aqui se instalando, esgueirou-se, a princípio, entre os mesmos que lá fora estiveram para, em seguida, alastrar-se por todo o país, fazendo o mesmo já em curso no hemisfério norte. Em razão da densidade demográfica, a propagação da doença se concentrou mais nas regiões metropolitanas, São Paulo e Rio, principalmente, vindo em seguida Fortaleza, São Luiz, Belém e Manaus, esta última a que mais sofre, devido ao precário serviço de saúde instalado. Em todo o país já são mais de dez mil mortos.
Socialmente, a COVID-19 encontrou ambiente ideal para sua propagação: população mal informada, mal educada e bastante manipulada politicamente, além de grandes bolsões de miséria (favelas), onde é praticamente impossível a prática do isolamento social, a principal arma no combate à pandemia. O isolamento social, a princípio bem sucedido, relaxa-se agora, o que pode acelerar a propagação da doença e, consequentemente, comprometer a capacidade de atendimento nas unidades de saúde. Diversos fatores contribuem para esse relaxamento.
É difícil ficar retido em casa, quando habituado a sair para exercer suas atividades, havendo para isso necessidade de bom equilíbrio psicológico. Grande número de pessoas tem necessidade premente de sair em busca de recursos financeiros, para se manter. Mas o que pesa mesmo na decisão de muitos outros em quebrar o isolamento é a politicagem, a disputa de poder tendo como base a pandemia. Esse é o maior problema, depois do descaso para com a saúde, em tempos normais, a desaguar agora na precariedade do sistema diante da atual emergência. A corrupção desenfreada levou para o ralo os recursos, que deveriam ser aplicados no sistema público de saúde, incluindo-se a CPMF, criada especificamente para aplicação no setor.
A população não mais acredita nos agentes políticos que, por sua vez, não têm moral para exigir nada, ainda que alguns esbocem boas intenções. Por isso falha a quarentena! Pena é que isso reverte em mais esforços, por parte dos mais sacrificados, não só os profissionais da saúde, mas todo o pessoal da área hospitalar e serviços afins. Quanto menor o isolamento social, maior o congestionamento nos hospitais e maior a probabilidade de colapso do sistema. Que Deus nos dê condições para tolerar os políticos e proteção contra o avanço do coronavirus!
A quem está em casa, em cumprimento da quarentena, esta é a oportunidade de refletir sobre o que se passa, analisar comportamento próprio anterior à pandemia e se reprogramar para o pós. O Homem encerra, em si, dois seres: o individual e o coletivo. Como ser individual, precisa reaprender a pensar, ouvir seu interior, escolher seu próprio caminho, os meios e com quê percorrê-lo; como ser coletivo há que estar em sintonia com o desejado pela maioria e contribuir para que o bem-estar seja alcançado por todos. Grupos, de qualquer natureza, sejam quais nomes tenham, não deveriam estar à frente dos destinos da coletividade humana, em qualquer país, cabendo isso tão somente à vontade da maioria desta em sua unicidade. Que o recolhimento físico, além de ocasião para maior aproximação familiar, seja a oportunidade de um mergulho em seu próprio interior e, ali, repensar valores humanos com os quais promover um mundo mais fraterno.