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Ponto de Vista do Batista
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Deslealdade, “crime” sem punição!

Tão logo entrou em circulação a edição da semana passada, fui abordado por pessoa a questionar expressão “pessoa do meu círculo, presumidamente amigo”, usada em referência ao círculo mais próximo depois da família. Ele me indagava: – então você não sabe que sou seu amigo? Sempre fui, com toda sinceridade, e você não acredita? Ele parecia desapontado, como se sua amizade não encontrasse eco. Foi a vez de me explicar, mesmo porque sabia que a expressão usada poderia provocar interpretação errônea, como acabava de acontecer. Respondi-lhe: – Com a abordagem e esse questionamento, você acaba de demonstrar que, realmente, é meu amigo; isso somente você pode fazer, somente você pode dizer ser meu amigo, porque você sabe. Entretanto, eu mesmo não posso dizer, porque esse sentimento é seu, está com você e com mais ninguém. Só você pode dizer; é como um tesouro, que você guarda sob segredo. Da sua amizade só posso dizer que há evidências! Eu dizer que fulano, beltrano ou sicrano é meu amigo é pura presunção. Podemos dizer que somos amigos, se de fato o somos, porque do contrário somos farsantes.
Dizer-se amigo e proceder ao contrário é o maior “crime”, não previsto na legislação penal, porém inserido no código de ética da espécie humana, a cobrar dos seus violadores a devida compensação, pois a vida assim o exige. Também eu me gabava de ter a amizade desta ou daquela pessoa, como se tivesse o poder de ler mentes, esquecido ainda de que nem sempre o que se vê e/ou se ouve espelha a verdade. Por trás das fartas canjicas à mostra pode esconder-se ferocidade à canina, e, a mão estendida, quando não a acariciar nossas costas, pode não passar de clava com que nos golpear, em momento oportuno.
Ao longo de décadas estivera convicto de que determinadas pessoas eram minhas amigas, assim como eu delas, mas estava completamente enganado. De uma hora para outra a farsa veio a descoberto e, aí, pude verificar como a falsidade é contaminante: outras pessoas à volta, também por mim consideradas amigas, carimbaram, como verdade, a farsa engendrada e compartilhada! Hoje creio que uma das vantagens, trazidas pela velhice, aos que se mantêm ligados, é ter um melhor conhecimento da natureza humana. Pena é que somente ao final da jornada se aprendam as coisas. Mas, é assim mesmo; se a vida é uma escola, é ao final desta que se nos completam os conhecimentos.  Se a morte me tivesse surpreendido antes de tais acontecimentos, teria morrido enganado e, possivelmente, víboras disfarçadas como amigas ainda tivessem segurado as alças do caixão, a conter os restos por mim deixados. Agradeço a Deus por isso! Por essa razão, não mais digo, convictamente, que tenho amigos. Posso dizer que sou amigo, quando sou, mas não posso dizer de terceiros em relação a mim.  Assim concluí a argumentação junto ao meu interlocutor. Ele ouviu e pareceu compreender as minhas razões, mas eu continuei: – na nossa interação com o semelhante, nem sempre o que se nos apresenta coincide com a verdade. A comunicação fácil, abraços, sorrisos, presentes, favores concedidos, nem sempre correspondem a uma amizade sincera, podendo, muitas vezes, ser capa a cobrir propósitos inconfessáveis. Tais pessoas assim procedem e se comportam, enquanto não lhes surge a oportunidade do bote final. Em contrapartida, aquela pessoa menos comunicativa, que nos parece de cara feia, ranzinza ou de maus bofes, pode ser sincera e leal, com qual um contato não se perde em decepção e transtornos. É verdade o que diz o povo: quem vê cara não vê coração!
Portanto, o verdadeiro amigo pode não ser, necessariamente, o que lhe parece, mas, certamente é aquele que, em nenhuma circunstância lhe deseja ou lhe faz mal, ainda que sob a lógica humana motivos existam. É o que se pode denominar amigo universal; aquele cuja mente não alimenta contra quem quer seja nenhum sentimento de ódio ou de vingança! Quando se sente prejudicado por alguém, dá a este o desprezo como resposta em lugar da retaliação ou vingança. No outro extremo, quem é desleal uma vez é desleal sempre e não é amigo de ninguém, nem de si próprio! Não é amigo nem de si próprio, porque o desleal, em lugar de se desenvolver, zelar pelo auto-aprimoramento, procura destruir a vida de quem lhe está mais próximo e com isso construir a sua. Ele é a antítese do amigo universal! É preferível ter dez ou mais inimigos declarados do que ter uma dessas pessoas como amiga. Que Deus nos livre delas!

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