Os números – acima dos dez milhões – do desemprego, no Brasil, são assustadores mas o mais grave é que, ainda que a economia reaja, a dificuldade de absorção dessa volumosa mão-de-obra persistirá, por algum tempo, porque o perfil do trabalhador não mudou, ao contrário do posto de trabalho, que tem evoluído, gradativamente, graças ao emprego de novas tecnologias. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, novos tipos de trabalho, consequentemente, novas profissões, novos empregos, surgem todos os dias, mas o trabalhador está despreparado, como consequência da dinâmica do ensino/aprendizado para o trabalho que não acompanha o processo no mesmo ritmo.
Assim como, na transição do século dezenove, muitas profissões desapareceram ou iniciaram processo de desaparecimento, dando lugar a outras, em razão das grandes invenções, o mesmo se dá agora e ainda se dará, em razão do avanço tecnológico na área digital. Veja-se o caso do transporte e das comunicações, em geral. Até o século dezenove, podia-se dizer que os indivíduos estavam presos aos seus locais de nascimento, sendo muito poucos os que se deslocavam para outras cidades e muito menos para outros países, por força do trabalho. Era a dificuldade das comunicações, lentas ou quase impossíveis; dos transportes, também lentos, precários, onerosos, perigosos; da estada no destino, onde nem sempre havia um hotel ou estalagem, dependendo-se, muitas vezes, do acolhimento em residência familiar. Como exemplo da precariedade do transporte, não é preciso sair do município de Ouro Preto e nem muito retroceder no tempo. Viagem de automóvel para a cidade de Ouro Preto e dela para qualquer lugar, na primeira metade do século passado, era verdadeira aventura. Conheci pessoas em Cachoeira, que só conheceram Ouro Preto em idade adulta e eu mesmo, só fui conhecê-la, de fato, aos 16 anos de idade, quando me alistei no Serviço Militar. Somente localidades servidas pela ferrovia tinham ligação mais fácil com o distrito-sede municipal.
Quando se conseguia trabalho em outra localidade, havia que mudar o domicílio para ela, ou se desistia do emprego. Atualmente, as pessoas podem trabalhar até cem quilômetros de sua residência e dormir em casa. Entretanto, essa comodidade, atingida há não muito tempo, já está sendo superada. Se foi ficção, não é mais, pois hoje já se pode trabalhar para empresa na Europa, sem sair de casa no Brasil. Grande parte desses postos de trabalho nem exige formação acadêmica, sendo necessárias, contudo, outras habilidades, além de disciplina, vontade de aprender, boa dose de curiosidade e algo do espírito de aventura. Com base nisso, há artigos na internet a generalizar, dizendo que para se obter sucesso, no trabalho online não é preciso muito estudar. Não é bem assim; “devagar com o andor porque o santo de é de barro”! Para os que pensam que a vida deve ser “mamão com açúcar”, tal declaração pode ser uma armadilha, pois estudos são sempre necessários, ainda que não na mesma linha dos feitos até o momento.
O que se tem observado é uma tendência por não exigência de diploma, se o candidato demonstra ter os conhecimentos necessários para o trabalho disponibilizado. É a valorização do saber a se contrapor ao diploma, cuja exigência já pôs à margem do mercado de trabalho muitos bons profissionais, para promover em seu lugar a mediocridade. Devido à extrema valorização da formação acadêmica, batem às portas das universidades, todos os anos, legiões de buscadores de diplomas, e, ingressa no mercado de trabalho bom número de profissionais mal preparados, cujo destino ao cabo de pouco tempo é a frustração.
A nova realidade trazida pelo mundo digital põe abaixo muito do que se cultuou, até aqui, quanto a quesitos indispensáveis para se conseguir e manter colocação no mercado de trabalho, substituindo-os por outros, muitas vezes, não percebidos pelo buscador, nem sempre, suficientemente curioso. Segundo o IBGE, metade da população brasileira está conectada à internet. Dessa população, entre os que procuram emprego, quantos sabem das oportunidades de trabalho abertas na web e quantos já tentaram conquistar uma? No caso brasileiro, duas verdades se contrapõem às chances no campo digital: os que buscam trabalho estão presos à modalidade antiga, não se adequando à nova realidade com novas opções; outros, simplesmente, estão despreparados, tendo e usando a internet como simples campo de lazer, quando não para atividades menos louváveis.