Mais uma vez, sei que vou desagradar a muita gente e antevejo críticas e impropérios pelo que direi, mas isso não me importa. Disse em outras ocasiões e repito que não escrevo para agradar a quem que seja; escrevo o que quero e de acordo com o que penso, não me movendo nenhum interesse vinculado a terceiros. Se assim penso, vamos aos fatos.
Num desses últimos dias, sob frio cortante e vento que incomodava bastante, estava a descer pela Rua Direita, quando fui abordado por uma rapaz, talvez na casa dos vinte para trinta anos. É interessante como, em muitas circunstâncias, os contrários se atraem. Sem quê nem pra quê, o recém-surgido lascou a pergunta: – aqui, onde é o campo de futebol? – Educadamente, dei-lhe a informação de que, seguindo o prolongamento daquela rua, ele chegaria ao mais tradicional. Antes da resposta, porém, engoli em seco, contei até dez, para não perder as estribeiras, porque na verdade tive vontade de dizer-lhe que o campo de futebol era na p.q.p., expressão grosseira que, diga-se de passagem, não uso nem em discussões de caráter violento! Não é da minha índole usar expressões desse tipo, embora já tenha sido, injustamente e sob intenções abomináveis, acusado de proferi-las em momentos impróprios, diante de presenças com presunção de inocência. Mas, voltemos ao caso campo de futebol. Seria o caso de se perguntar: – por que, em meu interior, reagi daquela forma? – Digo que, simplesmente, porque não concebo a ideia de alguém, na primeira visita a uma cidade como Ouro Preto, fazer uma indagação do tipo e onde foi feita, na rua, em meio a tantas coisas a chamar a atenção do visitante.
Em outras circunstâncias, na mesa de botequim, tudo bem. Ouro Preto, por suas características físicas e históricas suscita uma série de conjecturas, mesmo a pessoas de menor conhecimento. Daí é que, com tanta coisa para se ver, visitar, admirar, argumentar, discutir, considerando-se que não se trata de uma cidade igual às outras, querer saber onde é o campo de futebol é algo surrealista. Numa comparação um tanto forçada é como alguém que, no momento mais solene da missa, quisesse saber onde fica o botequim do zé-dos-anzóis! Não há como aguentar tal disparate! Mas, fazer o quê? Estamos no Brasil, país onde se beija bola e chuta a escola! Quando supunha ter sido contemplado com o máximo da imbecibilidade, naquela semana, chega-me por e-mail noticioso o relato de que um trabalhador teria apresentado sua CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social) para que jogadores de futebol apusessem seus autógrafos. O fato, por si só, impróprio e degradante, revela pouca educação, falta de cidadania e desconsideração à sua própria condição de trabalhador. Não sabe ele e talvez milhares de trabalhadores que a CTPS é o seu mais importante documento. Merece respeito e consideração, não só por registrar a vida do cidadão trabalhador, garantindo assim seus direitos, como também por comprovar que seu titular é parte da força que constrói o país.
Embora poucos saibam, talvez porque nunca lhes tenham dito, a CTPS é documento confidencial entre o empregado e o empregador, cabendo a este tê-la pelo tempo mínimo necessário, para que se façam os registros exigidos por lei, nada além do que exige a lei. Além do empregador, naquele momento, mais ninguém tem o direito de bisbilhotar a CTPS do trabalhador e, muito menos, fazer nela quaisquer intervenções. Que cada cidadão tenha isso em mente como um direito seu! Houve tempo em que a polícia cobrava a CTPS dos cidadãos, na rua, para comprovar se trabalhava ou não. Aqueles que não apresentavam o documento eram presos. Certa vez, fui abordado por um policial, que questionou o fato de eu não portar o documento. Apresentei a argumentação acima, ele coçou a cabeça e me liberou; felizmente ele não era do tipo truculento. Por ignorância, o cidadão/trabalhador/torcedor errou; na sequência, também por ignorância, erraram os atletas que usaram a CTPS para autografar; prosseguindo, também por ignorância, todos que curtiram e compartilharam a notícia apoiaram o erro. Os erros não pararam por aí, sendo a sucessão deles culminada pela ação da companhia cervejeira, patrocinadora do evento desportivo, que resolveu premiar o torcedor. Para isso desencadeou campanha de investigação no intuito de identificá-lo. Do último dos erros não se pode dizer que se faz por ignorância, porque o empresário é obrigado a conhecer a lei. A empresa tem o erro agravado, porque seu gesto pode estimular outros ao cometimento do mesmo erro.
Tudo é resultante do fanatismo! Se Lênin (líder da Revolução Russa) disse que a religião era o ópio do povo é porque não conhecia o futebol!